domingo, 5 de junho de 2011

Eu (achava que) já sabia

Teria sido maravilhoso que tudo tivesse acontecido conforme abaixo, mas não aconteceu. Roger Federer encontrou um Rafael Nadal inspirado. Acho que Deus pode ter ficado na dúvida de qual dos dois ajudar, já que ambos estão na mesma categoria. De modos diferentes, mas estão. São dois foras de série, jogadores incríveis e que demorará muito tempo para vermos de novo.

Continuo pensando tudo que escrevi abaixo. Serve de reflexão para os que condenam e atacam Federer e até mesmo para aqueles que dizem que Nadal é só um devolvedor de bolas sem virtudes. Ledo engano. Ele não é genial tecnicamente como Federer, mas joga com raça e inteligência demais, taticamente sempre perfeito.

Hoje o grande vencedor foi o tênis. Que partida! Privilégio poder assistir algo assim.

O que me deixa feliz é poder dizer “parabéns” a Nadal praticamente com as mesmas palavras que usaria para Federer.

Parabéns ao espanhol, parabéns ao maior gênio do saibro que o mundo já viu. Parabéns a Rafael Nadal e a todos aqueles que nunca duvidaram dele e de seu incrível talento. Parabéns ao tênis por ter um ser humano como esse competindo e mostrando que não há limites.

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A história do mundo se caracteriza por provar, em várias situações, que os grandes e incontestáveis homens e mulheres que por este planeta já passaram não devem ser desafiados. Ao longo de várias eras, um questionado Deus provou que os especiais e fora das características tidas como padrão que Ele envia ao mundo são, de fato, Seus protegidos. No esporte a coisa nunca funcionou de forma diferente. E consigo me lembrar rapidamente de dois exemplos bem recentes.

No futebol, na copa do mundo de dois mil e dois, o maior artilheiro da história das copas entrava em campo sendo extremamente questionado, vítima de chacotas e infinitas interrogações. E me incluo nesse grupo de pessoas, quero deixar bem claro. Ainda se recuperando de gravíssimas lesões, bem acima do peso ideal, seria ele decisivo, ou até mesmo importante, na campanha de sua seleção nacional? A competição mostrou que sim. Não só ele fez o gol do título, como também retificou a marca que ninguém ainda conseguiu bater. Ele é o artilheiro de todas as copas, ele é o fenômeno, ele é Ronaldo.

No tênis, um ex-campeão, maior vencedor de torneios de nível major da história até aquele momento, questionado, chamado de velho, ouvindo que era hora de se aposentar. Seu ranking era um modesto décimo quinto lugar, já havia outros que o venciam com alguma facilidade. Quando todos achavam que não lhe era mais possível fazer qualquer coisa digna de sua história, ele foi lá e venceu mais um – o último – torneio de Grand Slam e calou o mundo com sua genialidade. Ele confirmava ali que era, até aquele momento, o rei dos majors, o dono de um número de títulos praticamente imbatível dessa categoria de torneios profissionais. Ele é Pete Sampras.

Recentemente o mundo vinha passando por um momento bastante semelhante, novamente no tênis, novamente com um daqueles que deveriam ser inquestionáveis por tudo aquilo que já fizeram. E novamente a genialidade, o talento e o brilhantismo de mais um daqueles que Deus envia para tornar o mundo melhor apareceu e calou todos os ateus do esporte. E com Deus, meus caro, crendo Nele ou não, não se brinca. Não se aponta impunemente o dedo para Sua cara e diz “ei, você não é de nada”, impunemente. E, mais uma vez, Ele decidiu revidar os ataques. E fez ao seu melhor estilo: calmamente, na paz e com glória. Foi apenas mais uma vez na história, mas foi uma das que mais gostei até o momento, pois ela envolve o maior jogador de tênis de todas as eras, ela envolve o vencedor de dezessete torneios major, o homem que bateu a marca quase imbatível de Pete Sampras, ela envolve Roger Federer.

Ao longo de sua carreira o suíço fez coisas e registrou números inacreditáveis, superando quase todos os recordes vigentes em seu esporte. Foi o dono de jogadas que os fãs de tênis jamais esquecerão e fez com a raquete coisas que justificavam reuniões no Paraíso para tentar explicar de onde saíra tamanha genialidade. Porém, o homem que fez os maiores de todos os tempos em sua profissão se curvarem perante ele sem precisar fazer esforço ou pedir por isso, simplesmente porque reconheciam nele um novo rei e alguém que estava alguns degraus acima de seus feitos dentro de quadra, o jogador que fez Maria Ester Bueno dizer que “é inacreditável como o Federer faz as coisas mais incríveis parecerem simples” vinha sendo questionado e sofrendo acusações de que o fim havia chegado e que a hora de se aposentar estava próxima. Como eu disse, não se deve cutucar os preferidos de Deus de forma tão leviana e achar que vai sair ileso. Não mesmo. E foi o que aconteceu. E o palco para registrar a épica virada dos acontecimentos não poderia ser mais perfeito, a arena onde o maior de todos sempre enfrentou suas maiores dificuldades, o lugar onde ele sempre precisou se superar ainda mais para vencer, a casa de seu maior adversário, com uma vitória maiúscula sobre ele, seu maior antagonista, outro gigante e inquestionável do esporte, o espanhol Rafael Nadal.

O momento era o mais ideal possível: o mundo esportivo especializado estava inteiro contra Federer, jogando-o prematuramente na lona da aposentadoria, chamando-o de acabado e decadente, fazendo piadas de suas declarações de que estava vivo e na disputa, além de duvidar de algo que já havia muitas provas de que não era possível duvidar: sua capacidade técnica, genialidade e talento. E assim, como acontecera em tantas outras ocasiões, Deus guardou o melhor para o final, trazendo um de seus melhores enredos às telas da vida e presenteando os fãs deste esporte tão maravilhoso que é o tênis com um lindo momento de muita emoção e arte.

Desde pouco antes do início do torneio de Roland Garros eu dizia que Federer seria o campeão. Ele não vinha de grandes resultados e não jogava o melhor tênis de sua vida, mas eu ainda assim dizia. Eu sentia o momento. Via suas expressões nas derrotas, sentia o brio abalado nas críticas e percebia o tom de “olha bem o que vocês estão dizendo...” nas declarações após as partidas. As chacotas eram inúmeras e se espalhavam na internet. Enquanto isso o gênio se manteve em silêncio. Quando o torneio se iniciou, aí mesmo tive certeza de tudo. Não cometeria o mesmo erro que cometi na época de Ronaldo. A maneira que Federer se comportava em quadra, a maneira que vibrava e disputava cada ponto era diferente de tudo que eu o havia visto fazer nos últimos meses, talvez anos. Os mínimos detalhes estavam ali para quem quisesse ver: a bola mais rápida, o piso um pouco mais duro do que os dos torneios de saibro anteriores – até o vento foi enviado para deixar a quadra “careca” e, consequentemente, ajudar nessa tarefa –, Rafael Nadal um pouco longe de seus melhores momentos, tudo, nas suas maiores sutilezas, indicava a vitória do suíço, preparava o clima para o grand finale. A vitória sobre o trator sérvio foi simplesmente sensacional. Federer venceu o torneio e calou meio mundo do esporte ali. Navratilova, em minha opinião a maior tenista de todos os tempos, que já havia duvidado do maior dos gênios, via de perto sua aula de tênis e o desfile de técnica e golpes que não permitiram a Djokovic, por mais que este tentasse – e tentou muito! –, achar um caminho para a vitória. Os sinais estavam todos ali, era só ver.

A partida contra o sérvio, aliás, me lembrou de algo que ouvi Dácio Campos falar uma vez: “para ganhar de Federer o tenista tem que estar em seu melhor dia e Federer não pode estar no seu, porque o melhor dia de Roger Federer é melhor do que o melhor dia de qualquer tenista”. Não tenho como discordar disso.

Federer viveu em Roland Garros seu momento Joana D’Arc, onde o tribunal era a imprensa e a falta de culpa que deveria assumir compulsoriamente era a de sua decadência. Federer se negou a confessar algo que não fosse verdade, foi para a fogueira e, assim como Joanna, de lá saiu vitorioso. Ela, espiritualmente, ele fisicamente. Mostrou para todo o mundo como se faz um verdadeiro campeão, aqueles que ficam nos livros, não aqueles de um torneio só, mas sim de dezessete. Dezessete. E isso só de nível major. E isso até o momento...

Eu sempre abro os olhos para as coisas de Deus e, como tal, não pude evitar de ver algo que era tão claro: o torneio de Grand Slam preferido da maioria dos fãs de tênis – os mesmos fãs que debochavam de um de seus maiores expoentes –, o mais difícil de ser vencido, a final contra o maior rival e inquestionável dono do título de “maior jogador do saibro de todos os tempos”, a atmosfera de dúvidas que o cercava, as inúmeras adversidades dos últimos meses, tudo isso levava à vitória redentora e épica de Roger Federer. Só não via quem não queria. Eu quis ver. Eu vi. Assim como vi também a chuva que caiu em uma hora crucial da partida, onde o suíço passava por um momento muito ruim, demorou poucos minutos e se foi, nos trazendo um Federer recuperado e muito melhor mental e tecnicamente. Como disse, está tudo aí, é só ver. Ou querer ver...

Nunca escondi e nunca esconderei que sou fã incondicional do suíço. O que ele faz com a raquete é o que me faz ir todo final de semana para a quadra de tênis sonhar que posso fazer igual. É sua postura fora de quadra que me faz acreditar que o mundo tem solução, e sua amizade quase que fraterna com seu maior rival e algoz dentro de quadra que me faz achar que existe uma solução pacífica para as guerras no planeta. Ele é um grande exemplo para mim. Dentro e fora das quadras. Meu primeiro ídolo no tênis foi Boris Becker. Federer o superou de longe. Gustavo Kuerten só não é meu maior ídolo porque, nas quadras, não tem pra ninguém: Roger Federer é o maior de todos os tempos, assim como fora dela nosso querido Guga é imbatível.

Para não alongar ainda mais este texto – poderia falar dias sobre o tênis e os feitos do suíço – vou encerrar dizendo o óbvio: não brinque com os filhos diletos de Deus, creia você Nele ou não. A história está aí para provar isso, é só ter a sensibilidade para ver.

Parabéns ao suíço, parabéns ao maior gênio das raquetes que o mundo já viu. Parabéns a Roger Federer e a todos aqueles que nunca duvidaram dele e de seu incrível talento. Parabéns ao tênis por ter um ser humano como esse competindo e mostrando que não há limites.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Até aqui tudo bem...

Quando o jogo de ontem contra Ivan Navarro começou parecia que após a vitória sobre Verdasco, Bellucci havia voltado a ser o tenista das últimas semanas. Só com o passar dos games é que fomos perceber que não era bem assim e no final acabou tudo bem. Foi preciso um péssimo início de jogo e ser humilhado no primeiro set, para, então, o brasileiro conseguir uma convincente virada e avançar às quartas de final do torneio de Acapulco.

O jogo começou complicado para Bellucci. O ritmo de jogo alucinante e acelerado – mesmo no saibro – do espanhol pareceu desnortear um pouco o tenista paulista. Ele não achou um bom ritmo nas devoluções e se incomodou demais com os voleios e ataques ininterruptos do compatriota de Rafael Nadal. Resultado: 6/1 para o europeu no primeiro set.

No segundo set, porém, as coisas se acalmaram e a aguardada quebra parecia questão de tempo. Quando sacava, Thomaz confirmava o serviço com bastante facilidade, o que já não acontecia mais com seu adversário. Foi então que surgiu o grande mérito do paulista no jogo de ontem: a paciência. Com muita calma, o que não é muito comum para ele, Bellucci soube esperar o momento certo para “dar o bote” e quebrar o adversário, fechando a parcial em 6/4.

No terceiro set as coisas ficaram ainda mais fáceis, com o espanhol mais cansado e com Bellucci acertando belas passadas. Com uma quebra no oitavo game, o brasileiro abriu a vantagem que precisava e bastou confirmar o serviço em seguida para vencer e avançar no torneio.

De pontos positivos podemos destacar a paciência de Bellucci para buscar o resultado, a calma para encontrar uma solução para vencer depois de perder de forma humilhante o primeiro set e o excelente serviço. De pontos negativos, o de sempre: Thomaz ainda se posiciona mal em quadra após algumas devoluções e angula pouco os golpes nas trocas mais longas. E nem é preciso comentar os voleios... Mas Larri dará um jeito nisso, tenho certeza.

Até aqui tudo bem. As vitórias estão vindo e o brasileiro tem jogado bem. Ontem, à exceção do primeiro set, ele fez uma ótima partida. Fico feliz de ver que as “voadas” estão diminuindo muito e que sua consistência vem aumentando demais do fundo da quadra. Méritos para Larri nisso. Acredito na parceria, como já disse aqui algumas vezes, mas é preciso ter paciência, o que também já falei outras muitas vezes. É só esperar e dar tempo ao tempo. Até lá, só nos resta torcer para o brasileiro, que pode sair desse torneio na 32ª posição do ranking, se qualificando para ser cabeça de chave em Miami e Indian Wells. Vamos!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Será que agora vai?

Não vi o jogo de Thomaz Bellucci ontem, portanto seria leviano falar sobre a partida em si, mas fiquei muito feliz com o surpreendente resultado. Não tanto pela vitória, mas pelo placar largo e tranquilo. É claro que o fato de ter vencido pela primeira vez na carreira um tenista top ten é extremamente relevante e importante, mas do jeito que a coisa vinha se encaminhando para o brasileiro nos últimos jogos, perdendo de tenistas sem a menor expressão, uma vitória com autoridade sobre o número nove do mundo é muito, muito significativa.

Alexandre Cossenza, do blog Saque e Voleio, já havia dito na segunda-feira que o fato de jogar pela primeira vez no ano sem a obrigação de vencer poderia ser algo a favor de Bellucci. E acho que realmente foi. Sem a pressão, que leva o peso de sua raquete para uns dez quilos e sua cabeça para o fundo do poço, Thomaz jogou bem, sacou bem e se manteve firme para não dar as famosas viajadas que o tiram completamente do jogo, às vezes por tempo demais. Com somente a partida em mente ficou mais fácil manter a concentração e se preocupar apenas com o que acontecia em quadra, e não com o que o povo brasileiro iria pensar no final, já que perder para o nono colocado do ranking mundial não é vergonha alguma. Seja como for, deu certo e o brasileiro conseguiu uma excelente vitória, daquelas para dar moral e confiança.

Falta agora uma boa sequência para que a torcida brasileira deposite mais esperanças em seu melhor tenista. Vitórias isoladas não o tornarão digno de apostas e expectativas por parte da torcida. E esse ainda é seu maior problema: não conseguir bons resultados seguidos, perdendo para tenistas muito abaixo de seu ranking e nível técnico.

Acho que essa semana de treinos ininterruptos e intensivos, além do contato ainda mais próximo e prolongado com Larri Passos o ajudaram a colocar as coisas no lugar em sua cabeça. Pelo menos temporariamente. Vamos ver por quanto tempo a coisa vai ficar assim. Tenistas que conhecem Larri garantem que ele é capaz de dar jeito na mente do jovem tenista. Esperamos que sim. Muito treino, sorte, coragem e luta aos dois, eles vão precisar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ele é isso tudo mesmo?

Só eu não achei a sensação Milos Raonic esse tenista todo? Claro, ele é bom, mas é de fato tudo isso que andam falando por aí?

Primeiramente, vamos identificar os méritos do jovem canadense de apenas vinte anos:
• Saca demais. Talvez tenha o melhor saque do circuito no momento;
• Bate forte tanto com o forehand quanto com o backhand;
• Voleia muito bem.

Bom, quanto ao saque nem acho que seja necessário comentar. Deixo isso para Verdasco, mas quanto ao resto, vamos lá.

Os golpes de Raonic são muito fortes, as bolas de forehand são realmente muito “pesadas”. O backhand não fica muito atrás. A direita ainda tem como aliada da força os bons ângulos que ele consegue tirar em grande parte do tempo. Quando ataca com precisão, o canadense é fatal.

Sobre o voleio, aí sim acho que ele se destaca bem mais do que a maioria de seus companheiros de circuito. É claro que ainda há muito a evoluir, mas o fato de buscar a rede com freqüência e, na maior parte do tempo, com êxito já me anima bastante. Na era dos brucutus espancadores de bola, dá gosto ver alguém tão forte lá de trás subir à rede corriqueiramente.

Agora aos pontos negativos:
• Agride demais a bola, sempre buscando os winners “na linha”;
• Péssima movimentação, extremamente lento;
• Não tem consistência do fundo da quadra;
• Poucas variações quando a pancadaria não resolve.

"O primeiro ponto negativo acima deve estar no lugar errado, não?", você deve estar pensando. Mas não, não está no lugar errado. Um jogo de tênis é muito mais do que bolas rápidas e pancadaria buscando as linhas. Um jogo de tênis exige paciência, inteligência e calma para saber a exata hora de atacar. Os jogadores número um e número dois do ranking no momento não jogam na base da pancadaria, muito pelo contrário, trabalham o ponto com bolas mais anguladas, com mais spin e menos peso, movimentando o adversário até acharem a brecha para acelerar e buscar o winner. Raonic – e a maioria dos tenistas da atualidade – perde muitos pontos por impaciência, por querer bater sempre. Buscar as linhas é ótimo, Federer faz isso o tempo todo, mas experimenta tirar um pouco do peso e colocar um pouco mais de efeito com ângulos bem fechados pra ver se o nível de acerto não vai subir consideravelmente.

O problema é que a característica que apontei como defeito acima não é culpa do canadense. A tendência no tênis moderno é essa (infelizmente) e não há muito mais o que ele possa fazer, já que se movimenta muito mal – principalmente lateralmente – e é muito inconsistente no fundo da quadra. Trocas de bolas longas o levam ao erro rapidamente. Se o tenista do outro lado tiver paciência e baixar duas ou três bolas, tem grandes chances de ganhar o ponto em erros não forçados. É aí que entra o que eu disse sobre as poucas variações. Por se movimentar mal e estar acostumado a resolver a coisa na base da pancada, Raonic não consegue fugir muito das armadilhas dos slices baixinhos ou de bolas sem muito peso e com muito spin. Ele se complica. Aí tenta as pancadas que vão para fora ou as subidas à rede, que são ótimas, mas nem sempre dão certo, é normal. Não dava certo 100% das vezes para Sampras e Becker, por que daria para ele?

Não me interprete mal, não estou dizendo que o já maior tenista canadense de todos os tempos não é bom jogador. Longe disso. O garoto é bom. Muito bom! Não ganharia de três top ten e subiria mais de cem posições no ranking em dois meses, vencendo um ATP e sendo vice campeão de outro se não o fosse. Acho apenas que é muito cedo para dizer que ele é o próximo número um ou quebrador de recordes. Quem já o viu no saibro em algum torneio de expressão? Quem já o viu jogar quando o saque não funciona? Como ele se comportará defendendo pontos importantes (em um jogo ou em um torneio)? Vamos esperar um pouco mais. Lembro de Isner, Berdych, Cilic, dentre tantos outros que despontaram como fenômenos e acabaram se provando tenistas normais como quaisquer outros.

Agora, há de se dizer que Raonic é ainda muito jovem e tem muito a aprender e evoluir. Tudo depende da confiança que terá em seu(s) treinador(es), de como lidará com o sucesso e de quanta vontade terá de aprender mais, e nisso Federer e Nadal podem servir de exemplo para ele. Movimentação e precisão se adquire treinando. Paciência, consistência e inteligência já estão mais dentro dele e não podem ser apreendidos com treino se ele não as quiser/puder pôr para fora. Veja o caso de Andy Murray. Tecnicamente fantástico, mas a cabeça o impede de entrar para história do esporte.

Torço para que o canadense evolua, aperfeiçoe ainda mais o voleio, suba ainda mais à rede, angule, explore mais spin, jogue com inteligência e use a potência fantástica de seus golpes apenas para decidir os pontos. Se assim o fizer, Federer terá boa parte de seus recordes quebrados. Caso se contente em ser um espancador de bolinhas, talvez não brilhe tanto. Vamos ver, só o tempo dirá. Até lá, de olho nele!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ídolo ou não, lá vai ele!

Os recentes fracassos – se é que podemos usar este termo tão pesado – de nosso tenista número um, Thomaz Bellucci, me fizeram voltar a pensar no que já escrevi antes sobre a pressão que o paulista sofre para ser um ídolo no esporte. Olha, quanto mais penso nisso, menos tendo a concordar com o que parece ser a opinião da maioria, isto é, não acho que devamos cobrar de Thomaz que ele seja um ídolo, top ten ou qualquer coisa do tipo. Veja meus argumentos.

Em primeiro lugar, ser um ídolo é algo muito diferente e maior do que ser um grande atleta, com bons resultados. Quantos atletas brasileiros têm o respeito e a admiração de seu povo como o tem o grande Zico? E ele não carrega no currículo a metade das conquistas de Pelé, que é muito mais respeitado pelo que fez do que de fato pelo que é. Michael Schumacher possui sete títulos mundiais, mas em quase todas as eleições de revistas especializadas é de Ayrton Senna o título de maior de todos os tempos, mesmo tendo conquistado menos da metade dos títulos do alemão. Voltando ao tênis, o incomparável Guga se tornou uma lenda no esporte aqui no Brasil. Ele é respeitado e admirado no mundo inteiro, idolatrado pelos tenistas tupiniquins e objeto de verdadeira adoração do seu povo. Isso sendo “apenas” um jogador de tênis, esporte de nenhuma tradição por aqui. Nos EUA, Sampras é o tenista de maiores conquistas no esporte, seguido por Agassi. Em quadra, o primeiro era – pelo menos em minha opinião – bastante superior ao segundo, mais genial e dono de maiores recursos, mas o marido de Steffi Graf é um ídolo de maior expressão, mesmo tendo se envolvido em várias confusões e polêmicas ao longo da carreira. Sampras é mais respeitado tecnicamente; Agassi o é simplesmente por ser Agassi. Se formos analisar o campo das artes isso fica ainda pior. Quantos e quantos artistas sem muito talento se tornam ou se tornaram verdadeiros ícones em suas gerações, ao passo que alguns talentosíssimos acabaram jogados ao ostracismo? A vida é repleta desses exemplos, é só prestar atenção. E é por causa disso tudo que digo, sem medo de me achar precipitado, que Thomaz Bellucci nunca será um ídolo de expressão nacional, mesmo que se torne um dia o número um do mundo. Por quê? Fácil: porque ele não tem aquele “algo mais” que o leve até lá. Não estou falando de seu jogo, da parte técnica, estou falando dele, do próprio Thomaz. Ser um ídolo é algo que não se tem muita escolha, ou você é ou você não é. Quantos fãs tem Kim Clijsters e quantos tem Justine Henin? Qual das duas joga mais tênis? O carisma, a aura, a sensibilidade natural para se colocar, se comunicar e ser compreendido sem esforço nascem com a pessoa, não se ensina em academias ou centros de treinamento. Bellucci não tem isso e nem precisa ter. O problema não é ele, mas sim o povo brasileiro, que quer lhe dar características que não são possíveis de serem adquiridas.

O que acho pior nessa história toda é que parece que ele quer ter isso para poder responder à pressão que sofre. Bellucci, meu filho, para com isso! Deixa disso! Sai dessa! Você não é o Guga – e isso não é, nem de longe, uma ofensa ou crítica, ok? – e nem precisa ser! Você tem que ser você mesmo e ir em frente, jogando seu tênis e buscando evoluir sempre. O povo que se vire pra entender que você é assim, mais sisudo, introspectivo e caladão mesmo. Nelson Piquet foi tricampeão e gênio nas pistas sem se tornar um décimo do ídolo que Senna é. Relaxa. Vai buscar o que é seu na sua profissão e pronto, ok?

O outro lado da questão é o aspecto técnico. Aí, sim, a coisa complica bem mais. O brasileiro vem jogando mal – pelo menos neste início de temporada – e não apresenta a postura em quadra que se espera dele ou de qualquer um que se candidate a top ten. Todo atleta, ídolo ou não, deve entrar em uma partida ou disputa “com a faca entre os dentes”. No tênis, onde o jogo depende só de você, onde você não tem outros companheiros para te ajudar, o jogador precisa estar sempre no limite. Bellucci, no momento, não parece estar. Sua capacidade de “voar” durante os jogos e se abater com isso é, em minha opinião, o que mais lhe atrapalha, junto, é claro, com a pressão que carrega nas costas – ou na raquete. Esta tem pesado uns dez quilos, neste início de ano. Mas parte disso é culpa dele. Graças ao ótimo fim de temporada no ano passado, Thomaz começou o ano dizendo que ia buscar o top ten, juntando-se a Larri Passos para atingir este objetivo. O povo brasileiro criou uma expectativa absurda, como se o ex-técnico de Guga fosse um mago e o tênis um esporte fácil. O processo de adaptação dos dois pode levar uma temporada inteira para acontecer. Larri modificou tudo que Bellucci entendia sobre seu próprio jogo. Não é de uma hora para outra que se assimila isso, jogando dez anos anteriores de um estilo no lixo. É claro que o paulista vai sentir dificuldade de adaptação, óbvio que vai. É injusto reclamar dele agora. Nesse aspecto, pelo menos, é. O que não pode acontecer – e tem acontecido – são as “voadas”. Thomaz precisa de mais poder mental, de mais concentração e, principalmente, capacidade de assimilar seus erros, deixar o ponto para trás e ir em busca do próximo. Remoer o que passou diminui sua atitude/coragem em quadra, fazendo o adversário crescer, o que torna tudo muito mais difícil. Lembro-me de Fernando Meligeni, que era – e ainda é – amado pelos brasileiros, mesmo sendo argentino de nascimento. O motivo disso? O que fazia em quadra. Não era um gênio, mas doava a vida a cada ponto, com orgulho estampado no rosto de estar ali. Se Bellucci chegar nesse nível fico satisfeito. Pode morrer sem ganhar mais um título, mas fico satisfeitíssimo.

O mais importante para os brasileiros que acompanham Thomaz agora é ter ciência de que chegar a ser o número 21 do mundo pode ser o ápice de sua carreira. E, se assim for, temos que enaltecê-lo do mesmo jeito. Se um dia a seleção de futebol da Venezuela se classificar para uma copa do mundo e for às oitavas de final o país para, vira feriado, os atletas ganham estátuas, medalhas e tudo que tiver direito. O futebol lá é tão popular quanto o tênis aqui. Temos que respeitar alguém que consegue chegar ao top 30, pessoal. É uma obrigação nossa.

Fico imaginando se Andy Murray fosse brasileiro. Coitado do britânico. Se lá a coisa já é feia pra ele, imagina por aqui...

Vamos dar tempo a Bellucci, pois tenho certeza que não existe um brasileiro que queira mais que ele se torne um gigante em seu esporte do que ele próprio. E só ele pode correr atrás disso. Aumentar a pressão sobre ele só piora as coisas. Vamos ter paciência com o rapaz, pois, ídolo ou não, ele vai em busca do que todos – inclusive ele – querem e esperam.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

De fato e de direito...


Não fosse a existência de Justine Henin no circuito, o título deste post seria “de onde nunca deveria ter saído”. Isso para falar da merecida volta de Kim Clijsters ao topo do ranking da WTA. À exceção de sua compatriota belga, Kim tem o tênis mais completo e envolvente do circuito feminino dos últimos anos, defendendo e atacando muito bem. Ela é muito inteligente e agressiva em quadra, mas consegue fazer isso sem se limitar às pancadas da linha de base. Com Henin fora aposentada, merece, há muito tempo, o número um. E agora ela está lá de volta.

Clijsters não vem jogando muitos torneios, está em outra fase da carreira, já é mãe, já não é mais uma menina em busca de provar para o mundo o seu valor. Ela é uma tenista consolidada, que já esteve no lugar mais alto do ranking, já venceu muito e joga porque quer. Ainda assim, disputando um número bem menor de torneios do que a média das rivais, conseguiu voltar ao topo. E creio que ficará lá por algum tempo.

O jeito de ser de Kim também a transforma em uma colecionadora de fãs ao redor do mundo, pois o sorriso sempre presente no rosto, o bom humor e a simpatia a todo instante fazem dela objeto de adoração por fãs e até mesmo colegas de profissão.

A volta da belga ao número um é justíssima e era aguardada pela comunidade tenística há muito tempo. E esta mesma comunidade não quer que o tempo passe, pois este pode ser o último ano da carreira de Clijsters. Só nos resta aguardar e torcer para que isso não aconteça.

O DJ do torneio em Paris foi sábio ao colocar na P.A a música “don’t stop ‘til you get enough ” de Michael Jackson ao fim do jogo. Não pare, Kim, não pare. Não se dê por satisfeita ainda. E parabéns pelo número um!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pura nostalgia...

Quanto mais eu vejo jogos de tênis hoje em dia, mais me dá saudade de alguns jogadores que tive o prazer de ver jogar. Penso sempre que se fulano ou cicrano estivessem no circuito atual, a coisa ia ficar feia pra muita gente que freqüenta o top dez, por exemplo. Quem não ia querer ver um jogo entre um Ivan Lendl em forma contra um Roger Federer naqueles dias inspirados? E que tal Sampras no auge contra Nadal? Infelizmente isso só é possível de se ver nos jogos de exibição, onde a idade já faz muita diferença, e em vídeo games, e mesmo assim sem todas as combinações e realidade que gostaríamos. O fato é que, para mim, muita da magia do tênis tem ficado para trás nos últimos anos, onde reina a pancadaria e sobram os jogadores e jogadoras de contra ataque. Onde foi parar a combinação excêntrica e fantástica de graça e fúria dos voleadores?

A impressão que tenho é que o pessoal anda achando que dar pancada lá de trás da linha de base e ser agressivo é a mesma coisa. Nadal não tem a bola que se possa chamar de forte (no que diz respeito à potência, claro), mas é um tenista muito agressivo do fundo da quadra, mesmo com seus golpes cheios de spin. Com Federer acontece a mesma coisa. Sua bola é leve, cheia de ângulo e em alguns momentos bastante acelerada, mas seu jogo – quando não tem os famosos apagões – é de uma agressividade impressionante, com subidas à rede e paralelas lá do fundo que tiram o sono de qualquer um. Djokovic vem fazendo um jogo bastante agressivo também, mas ele já tem mais força e peso na bola do que o espanhol e o suíço. No tênis feminino, então, meu Deus, a força tem sido a tônica dos jogos das meninas há algum tempo.

O que quero dizer é que parece que o esporte que já primou pela elegância tem tomado rumos cada vez mais distantes do que se imaginou um dia, encurtando o espaço da estética e técnica do jogo, aumentando o da resistência, força e virilidade. Por isso que os fãs mais novos de tênis não dão muita atenção a jogadores como Llodra, outros criticam a postura “blasé” de Roger Federer e alguns nem conhecem Justine Henin (acredite!), apenas a Sharapova... Em uma época onde todos os esportes tendem a ficar cada vez mais físicos e menos técnicos, começa a faltar espaço para homens e mulheres como estes no gosto popular.

Para aqueles que não entendem bem o que estou falando, fiquem com os vídeos abaixo e vejam que agressividade e pancadaria não têm a menor relação; que jogar do fundo da quadra e jogar apenas no contra ataque são coisas bem diferentes. Pode ser pura nostalgia, admito. Mas divirtam-se com os vídeos! Eu me diverti muito...