domingo, 5 de junho de 2011

Eu (achava que) já sabia

Teria sido maravilhoso que tudo tivesse acontecido conforme abaixo, mas não aconteceu. Roger Federer encontrou um Rafael Nadal inspirado. Acho que Deus pode ter ficado na dúvida de qual dos dois ajudar, já que ambos estão na mesma categoria. De modos diferentes, mas estão. São dois foras de série, jogadores incríveis e que demorará muito tempo para vermos de novo.

Continuo pensando tudo que escrevi abaixo. Serve de reflexão para os que condenam e atacam Federer e até mesmo para aqueles que dizem que Nadal é só um devolvedor de bolas sem virtudes. Ledo engano. Ele não é genial tecnicamente como Federer, mas joga com raça e inteligência demais, taticamente sempre perfeito.

Hoje o grande vencedor foi o tênis. Que partida! Privilégio poder assistir algo assim.

O que me deixa feliz é poder dizer “parabéns” a Nadal praticamente com as mesmas palavras que usaria para Federer.

Parabéns ao espanhol, parabéns ao maior gênio do saibro que o mundo já viu. Parabéns a Rafael Nadal e a todos aqueles que nunca duvidaram dele e de seu incrível talento. Parabéns ao tênis por ter um ser humano como esse competindo e mostrando que não há limites.

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A história do mundo se caracteriza por provar, em várias situações, que os grandes e incontestáveis homens e mulheres que por este planeta já passaram não devem ser desafiados. Ao longo de várias eras, um questionado Deus provou que os especiais e fora das características tidas como padrão que Ele envia ao mundo são, de fato, Seus protegidos. No esporte a coisa nunca funcionou de forma diferente. E consigo me lembrar rapidamente de dois exemplos bem recentes.

No futebol, na copa do mundo de dois mil e dois, o maior artilheiro da história das copas entrava em campo sendo extremamente questionado, vítima de chacotas e infinitas interrogações. E me incluo nesse grupo de pessoas, quero deixar bem claro. Ainda se recuperando de gravíssimas lesões, bem acima do peso ideal, seria ele decisivo, ou até mesmo importante, na campanha de sua seleção nacional? A competição mostrou que sim. Não só ele fez o gol do título, como também retificou a marca que ninguém ainda conseguiu bater. Ele é o artilheiro de todas as copas, ele é o fenômeno, ele é Ronaldo.

No tênis, um ex-campeão, maior vencedor de torneios de nível major da história até aquele momento, questionado, chamado de velho, ouvindo que era hora de se aposentar. Seu ranking era um modesto décimo quinto lugar, já havia outros que o venciam com alguma facilidade. Quando todos achavam que não lhe era mais possível fazer qualquer coisa digna de sua história, ele foi lá e venceu mais um – o último – torneio de Grand Slam e calou o mundo com sua genialidade. Ele confirmava ali que era, até aquele momento, o rei dos majors, o dono de um número de títulos praticamente imbatível dessa categoria de torneios profissionais. Ele é Pete Sampras.

Recentemente o mundo vinha passando por um momento bastante semelhante, novamente no tênis, novamente com um daqueles que deveriam ser inquestionáveis por tudo aquilo que já fizeram. E novamente a genialidade, o talento e o brilhantismo de mais um daqueles que Deus envia para tornar o mundo melhor apareceu e calou todos os ateus do esporte. E com Deus, meus caro, crendo Nele ou não, não se brinca. Não se aponta impunemente o dedo para Sua cara e diz “ei, você não é de nada”, impunemente. E, mais uma vez, Ele decidiu revidar os ataques. E fez ao seu melhor estilo: calmamente, na paz e com glória. Foi apenas mais uma vez na história, mas foi uma das que mais gostei até o momento, pois ela envolve o maior jogador de tênis de todas as eras, ela envolve o vencedor de dezessete torneios major, o homem que bateu a marca quase imbatível de Pete Sampras, ela envolve Roger Federer.

Ao longo de sua carreira o suíço fez coisas e registrou números inacreditáveis, superando quase todos os recordes vigentes em seu esporte. Foi o dono de jogadas que os fãs de tênis jamais esquecerão e fez com a raquete coisas que justificavam reuniões no Paraíso para tentar explicar de onde saíra tamanha genialidade. Porém, o homem que fez os maiores de todos os tempos em sua profissão se curvarem perante ele sem precisar fazer esforço ou pedir por isso, simplesmente porque reconheciam nele um novo rei e alguém que estava alguns degraus acima de seus feitos dentro de quadra, o jogador que fez Maria Ester Bueno dizer que “é inacreditável como o Federer faz as coisas mais incríveis parecerem simples” vinha sendo questionado e sofrendo acusações de que o fim havia chegado e que a hora de se aposentar estava próxima. Como eu disse, não se deve cutucar os preferidos de Deus de forma tão leviana e achar que vai sair ileso. Não mesmo. E foi o que aconteceu. E o palco para registrar a épica virada dos acontecimentos não poderia ser mais perfeito, a arena onde o maior de todos sempre enfrentou suas maiores dificuldades, o lugar onde ele sempre precisou se superar ainda mais para vencer, a casa de seu maior adversário, com uma vitória maiúscula sobre ele, seu maior antagonista, outro gigante e inquestionável do esporte, o espanhol Rafael Nadal.

O momento era o mais ideal possível: o mundo esportivo especializado estava inteiro contra Federer, jogando-o prematuramente na lona da aposentadoria, chamando-o de acabado e decadente, fazendo piadas de suas declarações de que estava vivo e na disputa, além de duvidar de algo que já havia muitas provas de que não era possível duvidar: sua capacidade técnica, genialidade e talento. E assim, como acontecera em tantas outras ocasiões, Deus guardou o melhor para o final, trazendo um de seus melhores enredos às telas da vida e presenteando os fãs deste esporte tão maravilhoso que é o tênis com um lindo momento de muita emoção e arte.

Desde pouco antes do início do torneio de Roland Garros eu dizia que Federer seria o campeão. Ele não vinha de grandes resultados e não jogava o melhor tênis de sua vida, mas eu ainda assim dizia. Eu sentia o momento. Via suas expressões nas derrotas, sentia o brio abalado nas críticas e percebia o tom de “olha bem o que vocês estão dizendo...” nas declarações após as partidas. As chacotas eram inúmeras e se espalhavam na internet. Enquanto isso o gênio se manteve em silêncio. Quando o torneio se iniciou, aí mesmo tive certeza de tudo. Não cometeria o mesmo erro que cometi na época de Ronaldo. A maneira que Federer se comportava em quadra, a maneira que vibrava e disputava cada ponto era diferente de tudo que eu o havia visto fazer nos últimos meses, talvez anos. Os mínimos detalhes estavam ali para quem quisesse ver: a bola mais rápida, o piso um pouco mais duro do que os dos torneios de saibro anteriores – até o vento foi enviado para deixar a quadra “careca” e, consequentemente, ajudar nessa tarefa –, Rafael Nadal um pouco longe de seus melhores momentos, tudo, nas suas maiores sutilezas, indicava a vitória do suíço, preparava o clima para o grand finale. A vitória sobre o trator sérvio foi simplesmente sensacional. Federer venceu o torneio e calou meio mundo do esporte ali. Navratilova, em minha opinião a maior tenista de todos os tempos, que já havia duvidado do maior dos gênios, via de perto sua aula de tênis e o desfile de técnica e golpes que não permitiram a Djokovic, por mais que este tentasse – e tentou muito! –, achar um caminho para a vitória. Os sinais estavam todos ali, era só ver.

A partida contra o sérvio, aliás, me lembrou de algo que ouvi Dácio Campos falar uma vez: “para ganhar de Federer o tenista tem que estar em seu melhor dia e Federer não pode estar no seu, porque o melhor dia de Roger Federer é melhor do que o melhor dia de qualquer tenista”. Não tenho como discordar disso.

Federer viveu em Roland Garros seu momento Joana D’Arc, onde o tribunal era a imprensa e a falta de culpa que deveria assumir compulsoriamente era a de sua decadência. Federer se negou a confessar algo que não fosse verdade, foi para a fogueira e, assim como Joanna, de lá saiu vitorioso. Ela, espiritualmente, ele fisicamente. Mostrou para todo o mundo como se faz um verdadeiro campeão, aqueles que ficam nos livros, não aqueles de um torneio só, mas sim de dezessete. Dezessete. E isso só de nível major. E isso até o momento...

Eu sempre abro os olhos para as coisas de Deus e, como tal, não pude evitar de ver algo que era tão claro: o torneio de Grand Slam preferido da maioria dos fãs de tênis – os mesmos fãs que debochavam de um de seus maiores expoentes –, o mais difícil de ser vencido, a final contra o maior rival e inquestionável dono do título de “maior jogador do saibro de todos os tempos”, a atmosfera de dúvidas que o cercava, as inúmeras adversidades dos últimos meses, tudo isso levava à vitória redentora e épica de Roger Federer. Só não via quem não queria. Eu quis ver. Eu vi. Assim como vi também a chuva que caiu em uma hora crucial da partida, onde o suíço passava por um momento muito ruim, demorou poucos minutos e se foi, nos trazendo um Federer recuperado e muito melhor mental e tecnicamente. Como disse, está tudo aí, é só ver. Ou querer ver...

Nunca escondi e nunca esconderei que sou fã incondicional do suíço. O que ele faz com a raquete é o que me faz ir todo final de semana para a quadra de tênis sonhar que posso fazer igual. É sua postura fora de quadra que me faz acreditar que o mundo tem solução, e sua amizade quase que fraterna com seu maior rival e algoz dentro de quadra que me faz achar que existe uma solução pacífica para as guerras no planeta. Ele é um grande exemplo para mim. Dentro e fora das quadras. Meu primeiro ídolo no tênis foi Boris Becker. Federer o superou de longe. Gustavo Kuerten só não é meu maior ídolo porque, nas quadras, não tem pra ninguém: Roger Federer é o maior de todos os tempos, assim como fora dela nosso querido Guga é imbatível.

Para não alongar ainda mais este texto – poderia falar dias sobre o tênis e os feitos do suíço – vou encerrar dizendo o óbvio: não brinque com os filhos diletos de Deus, creia você Nele ou não. A história está aí para provar isso, é só ter a sensibilidade para ver.

Parabéns ao suíço, parabéns ao maior gênio das raquetes que o mundo já viu. Parabéns a Roger Federer e a todos aqueles que nunca duvidaram dele e de seu incrível talento. Parabéns ao tênis por ter um ser humano como esse competindo e mostrando que não há limites.

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