quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Até aqui tudo bem...

Quando o jogo de ontem contra Ivan Navarro começou parecia que após a vitória sobre Verdasco, Bellucci havia voltado a ser o tenista das últimas semanas. Só com o passar dos games é que fomos perceber que não era bem assim e no final acabou tudo bem. Foi preciso um péssimo início de jogo e ser humilhado no primeiro set, para, então, o brasileiro conseguir uma convincente virada e avançar às quartas de final do torneio de Acapulco.

O jogo começou complicado para Bellucci. O ritmo de jogo alucinante e acelerado – mesmo no saibro – do espanhol pareceu desnortear um pouco o tenista paulista. Ele não achou um bom ritmo nas devoluções e se incomodou demais com os voleios e ataques ininterruptos do compatriota de Rafael Nadal. Resultado: 6/1 para o europeu no primeiro set.

No segundo set, porém, as coisas se acalmaram e a aguardada quebra parecia questão de tempo. Quando sacava, Thomaz confirmava o serviço com bastante facilidade, o que já não acontecia mais com seu adversário. Foi então que surgiu o grande mérito do paulista no jogo de ontem: a paciência. Com muita calma, o que não é muito comum para ele, Bellucci soube esperar o momento certo para “dar o bote” e quebrar o adversário, fechando a parcial em 6/4.

No terceiro set as coisas ficaram ainda mais fáceis, com o espanhol mais cansado e com Bellucci acertando belas passadas. Com uma quebra no oitavo game, o brasileiro abriu a vantagem que precisava e bastou confirmar o serviço em seguida para vencer e avançar no torneio.

De pontos positivos podemos destacar a paciência de Bellucci para buscar o resultado, a calma para encontrar uma solução para vencer depois de perder de forma humilhante o primeiro set e o excelente serviço. De pontos negativos, o de sempre: Thomaz ainda se posiciona mal em quadra após algumas devoluções e angula pouco os golpes nas trocas mais longas. E nem é preciso comentar os voleios... Mas Larri dará um jeito nisso, tenho certeza.

Até aqui tudo bem. As vitórias estão vindo e o brasileiro tem jogado bem. Ontem, à exceção do primeiro set, ele fez uma ótima partida. Fico feliz de ver que as “voadas” estão diminuindo muito e que sua consistência vem aumentando demais do fundo da quadra. Méritos para Larri nisso. Acredito na parceria, como já disse aqui algumas vezes, mas é preciso ter paciência, o que também já falei outras muitas vezes. É só esperar e dar tempo ao tempo. Até lá, só nos resta torcer para o brasileiro, que pode sair desse torneio na 32ª posição do ranking, se qualificando para ser cabeça de chave em Miami e Indian Wells. Vamos!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Será que agora vai?

Não vi o jogo de Thomaz Bellucci ontem, portanto seria leviano falar sobre a partida em si, mas fiquei muito feliz com o surpreendente resultado. Não tanto pela vitória, mas pelo placar largo e tranquilo. É claro que o fato de ter vencido pela primeira vez na carreira um tenista top ten é extremamente relevante e importante, mas do jeito que a coisa vinha se encaminhando para o brasileiro nos últimos jogos, perdendo de tenistas sem a menor expressão, uma vitória com autoridade sobre o número nove do mundo é muito, muito significativa.

Alexandre Cossenza, do blog Saque e Voleio, já havia dito na segunda-feira que o fato de jogar pela primeira vez no ano sem a obrigação de vencer poderia ser algo a favor de Bellucci. E acho que realmente foi. Sem a pressão, que leva o peso de sua raquete para uns dez quilos e sua cabeça para o fundo do poço, Thomaz jogou bem, sacou bem e se manteve firme para não dar as famosas viajadas que o tiram completamente do jogo, às vezes por tempo demais. Com somente a partida em mente ficou mais fácil manter a concentração e se preocupar apenas com o que acontecia em quadra, e não com o que o povo brasileiro iria pensar no final, já que perder para o nono colocado do ranking mundial não é vergonha alguma. Seja como for, deu certo e o brasileiro conseguiu uma excelente vitória, daquelas para dar moral e confiança.

Falta agora uma boa sequência para que a torcida brasileira deposite mais esperanças em seu melhor tenista. Vitórias isoladas não o tornarão digno de apostas e expectativas por parte da torcida. E esse ainda é seu maior problema: não conseguir bons resultados seguidos, perdendo para tenistas muito abaixo de seu ranking e nível técnico.

Acho que essa semana de treinos ininterruptos e intensivos, além do contato ainda mais próximo e prolongado com Larri Passos o ajudaram a colocar as coisas no lugar em sua cabeça. Pelo menos temporariamente. Vamos ver por quanto tempo a coisa vai ficar assim. Tenistas que conhecem Larri garantem que ele é capaz de dar jeito na mente do jovem tenista. Esperamos que sim. Muito treino, sorte, coragem e luta aos dois, eles vão precisar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ele é isso tudo mesmo?

Só eu não achei a sensação Milos Raonic esse tenista todo? Claro, ele é bom, mas é de fato tudo isso que andam falando por aí?

Primeiramente, vamos identificar os méritos do jovem canadense de apenas vinte anos:
• Saca demais. Talvez tenha o melhor saque do circuito no momento;
• Bate forte tanto com o forehand quanto com o backhand;
• Voleia muito bem.

Bom, quanto ao saque nem acho que seja necessário comentar. Deixo isso para Verdasco, mas quanto ao resto, vamos lá.

Os golpes de Raonic são muito fortes, as bolas de forehand são realmente muito “pesadas”. O backhand não fica muito atrás. A direita ainda tem como aliada da força os bons ângulos que ele consegue tirar em grande parte do tempo. Quando ataca com precisão, o canadense é fatal.

Sobre o voleio, aí sim acho que ele se destaca bem mais do que a maioria de seus companheiros de circuito. É claro que ainda há muito a evoluir, mas o fato de buscar a rede com freqüência e, na maior parte do tempo, com êxito já me anima bastante. Na era dos brucutus espancadores de bola, dá gosto ver alguém tão forte lá de trás subir à rede corriqueiramente.

Agora aos pontos negativos:
• Agride demais a bola, sempre buscando os winners “na linha”;
• Péssima movimentação, extremamente lento;
• Não tem consistência do fundo da quadra;
• Poucas variações quando a pancadaria não resolve.

"O primeiro ponto negativo acima deve estar no lugar errado, não?", você deve estar pensando. Mas não, não está no lugar errado. Um jogo de tênis é muito mais do que bolas rápidas e pancadaria buscando as linhas. Um jogo de tênis exige paciência, inteligência e calma para saber a exata hora de atacar. Os jogadores número um e número dois do ranking no momento não jogam na base da pancadaria, muito pelo contrário, trabalham o ponto com bolas mais anguladas, com mais spin e menos peso, movimentando o adversário até acharem a brecha para acelerar e buscar o winner. Raonic – e a maioria dos tenistas da atualidade – perde muitos pontos por impaciência, por querer bater sempre. Buscar as linhas é ótimo, Federer faz isso o tempo todo, mas experimenta tirar um pouco do peso e colocar um pouco mais de efeito com ângulos bem fechados pra ver se o nível de acerto não vai subir consideravelmente.

O problema é que a característica que apontei como defeito acima não é culpa do canadense. A tendência no tênis moderno é essa (infelizmente) e não há muito mais o que ele possa fazer, já que se movimenta muito mal – principalmente lateralmente – e é muito inconsistente no fundo da quadra. Trocas de bolas longas o levam ao erro rapidamente. Se o tenista do outro lado tiver paciência e baixar duas ou três bolas, tem grandes chances de ganhar o ponto em erros não forçados. É aí que entra o que eu disse sobre as poucas variações. Por se movimentar mal e estar acostumado a resolver a coisa na base da pancada, Raonic não consegue fugir muito das armadilhas dos slices baixinhos ou de bolas sem muito peso e com muito spin. Ele se complica. Aí tenta as pancadas que vão para fora ou as subidas à rede, que são ótimas, mas nem sempre dão certo, é normal. Não dava certo 100% das vezes para Sampras e Becker, por que daria para ele?

Não me interprete mal, não estou dizendo que o já maior tenista canadense de todos os tempos não é bom jogador. Longe disso. O garoto é bom. Muito bom! Não ganharia de três top ten e subiria mais de cem posições no ranking em dois meses, vencendo um ATP e sendo vice campeão de outro se não o fosse. Acho apenas que é muito cedo para dizer que ele é o próximo número um ou quebrador de recordes. Quem já o viu no saibro em algum torneio de expressão? Quem já o viu jogar quando o saque não funciona? Como ele se comportará defendendo pontos importantes (em um jogo ou em um torneio)? Vamos esperar um pouco mais. Lembro de Isner, Berdych, Cilic, dentre tantos outros que despontaram como fenômenos e acabaram se provando tenistas normais como quaisquer outros.

Agora, há de se dizer que Raonic é ainda muito jovem e tem muito a aprender e evoluir. Tudo depende da confiança que terá em seu(s) treinador(es), de como lidará com o sucesso e de quanta vontade terá de aprender mais, e nisso Federer e Nadal podem servir de exemplo para ele. Movimentação e precisão se adquire treinando. Paciência, consistência e inteligência já estão mais dentro dele e não podem ser apreendidos com treino se ele não as quiser/puder pôr para fora. Veja o caso de Andy Murray. Tecnicamente fantástico, mas a cabeça o impede de entrar para história do esporte.

Torço para que o canadense evolua, aperfeiçoe ainda mais o voleio, suba ainda mais à rede, angule, explore mais spin, jogue com inteligência e use a potência fantástica de seus golpes apenas para decidir os pontos. Se assim o fizer, Federer terá boa parte de seus recordes quebrados. Caso se contente em ser um espancador de bolinhas, talvez não brilhe tanto. Vamos ver, só o tempo dirá. Até lá, de olho nele!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ídolo ou não, lá vai ele!

Os recentes fracassos – se é que podemos usar este termo tão pesado – de nosso tenista número um, Thomaz Bellucci, me fizeram voltar a pensar no que já escrevi antes sobre a pressão que o paulista sofre para ser um ídolo no esporte. Olha, quanto mais penso nisso, menos tendo a concordar com o que parece ser a opinião da maioria, isto é, não acho que devamos cobrar de Thomaz que ele seja um ídolo, top ten ou qualquer coisa do tipo. Veja meus argumentos.

Em primeiro lugar, ser um ídolo é algo muito diferente e maior do que ser um grande atleta, com bons resultados. Quantos atletas brasileiros têm o respeito e a admiração de seu povo como o tem o grande Zico? E ele não carrega no currículo a metade das conquistas de Pelé, que é muito mais respeitado pelo que fez do que de fato pelo que é. Michael Schumacher possui sete títulos mundiais, mas em quase todas as eleições de revistas especializadas é de Ayrton Senna o título de maior de todos os tempos, mesmo tendo conquistado menos da metade dos títulos do alemão. Voltando ao tênis, o incomparável Guga se tornou uma lenda no esporte aqui no Brasil. Ele é respeitado e admirado no mundo inteiro, idolatrado pelos tenistas tupiniquins e objeto de verdadeira adoração do seu povo. Isso sendo “apenas” um jogador de tênis, esporte de nenhuma tradição por aqui. Nos EUA, Sampras é o tenista de maiores conquistas no esporte, seguido por Agassi. Em quadra, o primeiro era – pelo menos em minha opinião – bastante superior ao segundo, mais genial e dono de maiores recursos, mas o marido de Steffi Graf é um ídolo de maior expressão, mesmo tendo se envolvido em várias confusões e polêmicas ao longo da carreira. Sampras é mais respeitado tecnicamente; Agassi o é simplesmente por ser Agassi. Se formos analisar o campo das artes isso fica ainda pior. Quantos e quantos artistas sem muito talento se tornam ou se tornaram verdadeiros ícones em suas gerações, ao passo que alguns talentosíssimos acabaram jogados ao ostracismo? A vida é repleta desses exemplos, é só prestar atenção. E é por causa disso tudo que digo, sem medo de me achar precipitado, que Thomaz Bellucci nunca será um ídolo de expressão nacional, mesmo que se torne um dia o número um do mundo. Por quê? Fácil: porque ele não tem aquele “algo mais” que o leve até lá. Não estou falando de seu jogo, da parte técnica, estou falando dele, do próprio Thomaz. Ser um ídolo é algo que não se tem muita escolha, ou você é ou você não é. Quantos fãs tem Kim Clijsters e quantos tem Justine Henin? Qual das duas joga mais tênis? O carisma, a aura, a sensibilidade natural para se colocar, se comunicar e ser compreendido sem esforço nascem com a pessoa, não se ensina em academias ou centros de treinamento. Bellucci não tem isso e nem precisa ter. O problema não é ele, mas sim o povo brasileiro, que quer lhe dar características que não são possíveis de serem adquiridas.

O que acho pior nessa história toda é que parece que ele quer ter isso para poder responder à pressão que sofre. Bellucci, meu filho, para com isso! Deixa disso! Sai dessa! Você não é o Guga – e isso não é, nem de longe, uma ofensa ou crítica, ok? – e nem precisa ser! Você tem que ser você mesmo e ir em frente, jogando seu tênis e buscando evoluir sempre. O povo que se vire pra entender que você é assim, mais sisudo, introspectivo e caladão mesmo. Nelson Piquet foi tricampeão e gênio nas pistas sem se tornar um décimo do ídolo que Senna é. Relaxa. Vai buscar o que é seu na sua profissão e pronto, ok?

O outro lado da questão é o aspecto técnico. Aí, sim, a coisa complica bem mais. O brasileiro vem jogando mal – pelo menos neste início de temporada – e não apresenta a postura em quadra que se espera dele ou de qualquer um que se candidate a top ten. Todo atleta, ídolo ou não, deve entrar em uma partida ou disputa “com a faca entre os dentes”. No tênis, onde o jogo depende só de você, onde você não tem outros companheiros para te ajudar, o jogador precisa estar sempre no limite. Bellucci, no momento, não parece estar. Sua capacidade de “voar” durante os jogos e se abater com isso é, em minha opinião, o que mais lhe atrapalha, junto, é claro, com a pressão que carrega nas costas – ou na raquete. Esta tem pesado uns dez quilos, neste início de ano. Mas parte disso é culpa dele. Graças ao ótimo fim de temporada no ano passado, Thomaz começou o ano dizendo que ia buscar o top ten, juntando-se a Larri Passos para atingir este objetivo. O povo brasileiro criou uma expectativa absurda, como se o ex-técnico de Guga fosse um mago e o tênis um esporte fácil. O processo de adaptação dos dois pode levar uma temporada inteira para acontecer. Larri modificou tudo que Bellucci entendia sobre seu próprio jogo. Não é de uma hora para outra que se assimila isso, jogando dez anos anteriores de um estilo no lixo. É claro que o paulista vai sentir dificuldade de adaptação, óbvio que vai. É injusto reclamar dele agora. Nesse aspecto, pelo menos, é. O que não pode acontecer – e tem acontecido – são as “voadas”. Thomaz precisa de mais poder mental, de mais concentração e, principalmente, capacidade de assimilar seus erros, deixar o ponto para trás e ir em busca do próximo. Remoer o que passou diminui sua atitude/coragem em quadra, fazendo o adversário crescer, o que torna tudo muito mais difícil. Lembro-me de Fernando Meligeni, que era – e ainda é – amado pelos brasileiros, mesmo sendo argentino de nascimento. O motivo disso? O que fazia em quadra. Não era um gênio, mas doava a vida a cada ponto, com orgulho estampado no rosto de estar ali. Se Bellucci chegar nesse nível fico satisfeito. Pode morrer sem ganhar mais um título, mas fico satisfeitíssimo.

O mais importante para os brasileiros que acompanham Thomaz agora é ter ciência de que chegar a ser o número 21 do mundo pode ser o ápice de sua carreira. E, se assim for, temos que enaltecê-lo do mesmo jeito. Se um dia a seleção de futebol da Venezuela se classificar para uma copa do mundo e for às oitavas de final o país para, vira feriado, os atletas ganham estátuas, medalhas e tudo que tiver direito. O futebol lá é tão popular quanto o tênis aqui. Temos que respeitar alguém que consegue chegar ao top 30, pessoal. É uma obrigação nossa.

Fico imaginando se Andy Murray fosse brasileiro. Coitado do britânico. Se lá a coisa já é feia pra ele, imagina por aqui...

Vamos dar tempo a Bellucci, pois tenho certeza que não existe um brasileiro que queira mais que ele se torne um gigante em seu esporte do que ele próprio. E só ele pode correr atrás disso. Aumentar a pressão sobre ele só piora as coisas. Vamos ter paciência com o rapaz, pois, ídolo ou não, ele vai em busca do que todos – inclusive ele – querem e esperam.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

De fato e de direito...


Não fosse a existência de Justine Henin no circuito, o título deste post seria “de onde nunca deveria ter saído”. Isso para falar da merecida volta de Kim Clijsters ao topo do ranking da WTA. À exceção de sua compatriota belga, Kim tem o tênis mais completo e envolvente do circuito feminino dos últimos anos, defendendo e atacando muito bem. Ela é muito inteligente e agressiva em quadra, mas consegue fazer isso sem se limitar às pancadas da linha de base. Com Henin fora aposentada, merece, há muito tempo, o número um. E agora ela está lá de volta.

Clijsters não vem jogando muitos torneios, está em outra fase da carreira, já é mãe, já não é mais uma menina em busca de provar para o mundo o seu valor. Ela é uma tenista consolidada, que já esteve no lugar mais alto do ranking, já venceu muito e joga porque quer. Ainda assim, disputando um número bem menor de torneios do que a média das rivais, conseguiu voltar ao topo. E creio que ficará lá por algum tempo.

O jeito de ser de Kim também a transforma em uma colecionadora de fãs ao redor do mundo, pois o sorriso sempre presente no rosto, o bom humor e a simpatia a todo instante fazem dela objeto de adoração por fãs e até mesmo colegas de profissão.

A volta da belga ao número um é justíssima e era aguardada pela comunidade tenística há muito tempo. E esta mesma comunidade não quer que o tempo passe, pois este pode ser o último ano da carreira de Clijsters. Só nos resta aguardar e torcer para que isso não aconteça.

O DJ do torneio em Paris foi sábio ao colocar na P.A a música “don’t stop ‘til you get enough ” de Michael Jackson ao fim do jogo. Não pare, Kim, não pare. Não se dê por satisfeita ainda. E parabéns pelo número um!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pura nostalgia...

Quanto mais eu vejo jogos de tênis hoje em dia, mais me dá saudade de alguns jogadores que tive o prazer de ver jogar. Penso sempre que se fulano ou cicrano estivessem no circuito atual, a coisa ia ficar feia pra muita gente que freqüenta o top dez, por exemplo. Quem não ia querer ver um jogo entre um Ivan Lendl em forma contra um Roger Federer naqueles dias inspirados? E que tal Sampras no auge contra Nadal? Infelizmente isso só é possível de se ver nos jogos de exibição, onde a idade já faz muita diferença, e em vídeo games, e mesmo assim sem todas as combinações e realidade que gostaríamos. O fato é que, para mim, muita da magia do tênis tem ficado para trás nos últimos anos, onde reina a pancadaria e sobram os jogadores e jogadoras de contra ataque. Onde foi parar a combinação excêntrica e fantástica de graça e fúria dos voleadores?

A impressão que tenho é que o pessoal anda achando que dar pancada lá de trás da linha de base e ser agressivo é a mesma coisa. Nadal não tem a bola que se possa chamar de forte (no que diz respeito à potência, claro), mas é um tenista muito agressivo do fundo da quadra, mesmo com seus golpes cheios de spin. Com Federer acontece a mesma coisa. Sua bola é leve, cheia de ângulo e em alguns momentos bastante acelerada, mas seu jogo – quando não tem os famosos apagões – é de uma agressividade impressionante, com subidas à rede e paralelas lá do fundo que tiram o sono de qualquer um. Djokovic vem fazendo um jogo bastante agressivo também, mas ele já tem mais força e peso na bola do que o espanhol e o suíço. No tênis feminino, então, meu Deus, a força tem sido a tônica dos jogos das meninas há algum tempo.

O que quero dizer é que parece que o esporte que já primou pela elegância tem tomado rumos cada vez mais distantes do que se imaginou um dia, encurtando o espaço da estética e técnica do jogo, aumentando o da resistência, força e virilidade. Por isso que os fãs mais novos de tênis não dão muita atenção a jogadores como Llodra, outros criticam a postura “blasé” de Roger Federer e alguns nem conhecem Justine Henin (acredite!), apenas a Sharapova... Em uma época onde todos os esportes tendem a ficar cada vez mais físicos e menos técnicos, começa a faltar espaço para homens e mulheres como estes no gosto popular.

Para aqueles que não entendem bem o que estou falando, fiquem com os vídeos abaixo e vejam que agressividade e pancadaria não têm a menor relação; que jogar do fundo da quadra e jogar apenas no contra ataque são coisas bem diferentes. Pode ser pura nostalgia, admito. Mas divirtam-se com os vídeos! Eu me diverti muito...








quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quem condena?

Nas últimas semanas dois tenistas brasileiros foram alvo de muita polêmica, graças a decisões que tomaram em quadra. Marcos Daniel e Thiago Alves, cada um a seu modo, agiram de acordo com aquilo que julgavam correto no momento e levantaram discussões em todas as redes sociais do mundo em que havia pelo menos dois fãs de tênis. Sem julgar qualquer mérito ou demérito nas decisões de ambos, vou comentar o assunto, expondo aquilo que penso a respeito, o que não é, necessariamente, a verdade absoluta. Nem assim pretendo que o seja, é apenas a minha opinião, ok?

No dia do jogo de Marcos Daniel, ainda na primeira rodada do Australian Open de dois mil e onze, me enchi de esperanças de ver uma boa partida e um brasileiro fazendo bonito na Rod Laver Arena. Mas quando a disputa começou, logo percebi que isso seria só uma doce ilusão. O brasileiro não oferecia resistência, não se movia em quadra corretamente e perdeu o primeiro set sem marcar um ponto sequer. No meio da segunda parcial veio o abandono do brasileiro. Depois viemos a saber que ele estava sentindo uma forte lesão no joelho, que passara a incomodá-lo em um treino alguns dias antes. Quando vi que o próprio tenista disse que sabia que não tinha condições de jogo devido a essa lesão, me irritei e perguntei, sem obter resposta: “Por que não se falou nisso antes? Por que esperar o jogo? Por que não abandonar antes e não passar essa vergonha, já que sabia que não poderia competir contra ninguém?”. Logo vieram matérias em todos os veículos ligados ao tênis informando que Daniel entrou em quadra por causa do prêmio em dinheiro (cerca de trinta e três mil reais), pois precisava dele para sustentar sua família. Minhas críticas cessaram imediatamente. Quem pode condenar um homem por querer o melhor para sua família? E ele não havia feito nada errado. Seu único “crime” foi entrar em quadra sem condições, única e exclusivamente pelo dinheiro. E é nisso que quero basear meu argumento, mas primeiro vou falar do caso de Thiago Alves e depois concluir, ok?

A polêmica de Thiago é um pouco maior e deu muito mais repercussão na imprensa esportiva e nas redes sociais do que a de seu colega gaúcho. A causa disso tudo foi sua derrota para o sul-africano Nikala Scholtz no qualify de Johanesburgo e sua declaração oficial através de sua assessoria de imprensa, que dizia que ele não se esforçou muito no jogo, pois enfrentaria um adversário muito difícil no dia seguinte e precisava se poupar, já que já estava classificado, independente do resultado da partida. Aí começaram os gritos de “entregou” e as pedradas no tenista, acusando-o de anti-ético, desrespeitoso com o esporte, com o público, com o atleta que enfrentava e com o outro lucky loser, e por aí vai. Vamos analisar as coisas por partes.

1 – Eu entendo “não se esforçar muito” como algo “jogar em um ritmo mais lento, se der pra ganhar, beleza” e não “vou perder logo isso aqui, porque não tô nem aí”;

2 – Atletas profissionais vivem do dinheiro que ganham com patrocínio, premiações e títulos. Thiago apostou que poderia ir mais longe no torneio, e, consequentemente, aumentar as chances de melhorar tudo isso aí que falei, então jogou “com o regulamento debaixo do braço”, como dizem no esporte. É errado?

O que quero dizer é: não podemos nos iludir e pensar que um atleta profissional pratica o esporte apenas pelo amor, pela alma esportiva ou algo do tipo. Estes somos nós, os amadores que jogamos porque adoramos e só isso nos basta. Eles jogam porque precisam dele, acima de tudo. Esporte pelo simples espírito esportivo é o frescobol. O tênis profissional é coisa séria, e é por isso que tem regras, juízes, associações e todo o tipo de controle sobre ele. Milhões de dólares são gastos por ano em premiações, patrocínio e organização de eventos. Não dá para achar que neste mundo só existe amor ao esporte. Não nos iludamos. Thiago não fez nada diferente do que a maioria de nós também faria se estivesse em seu lugar. Quem joga o mínimo de tênis sabe o quanto este esporte exige física e mentalmente, como são caros bons equipamentos. Imaginem o esforço gasto na formação de um profissional? Alguém aí tem ideia do quanto de dinheiro se gasta para formar um tenista nível ATP? Como condenar alguém que passou por muita coisa, inúmeras privações, investiu uma fortuna para chegar onde está, para aparecer, para subir no ranking, vencer um torneio importante e, por isso, opta por uma decisão que, pelo menos em tese, o ajudaria no restante da competição? É verdade que ele não avançou como imaginou que o faria e acabou somando menos pontos, mas ele apostou. E, em minha opinião, apostou bem. Ele pensou pra frente, apostou em vencer e seguir no torneio, pensou na continuidade da competição, nas suas chances de conquistas e quis aumentá-las. E por isso acho que está certo. Se ele tinha condições físicas para jogar em plenas condições duas partidas no mesmo dia e mais uma contra um adversário difícil no dia seguinte, só quem sabe é ele. Ele e mais ninguém. Eu não posso me atrever a dizer, sem ser o próprio atleta, se ele tinha ou não tinha condições de jogo. Seria leviano de minha parte afirmar isso. Só o próprio atleta sabe até onde pode chegar.

Voltando ao Marcos Daniel, faço uma pergunta: por que ele foi tão elogiado por enfrentar Nadal mesmo machucado e Thiago tão condenado pela decisão que tomou? Lembro a vocês que Daniel deixou bem claro que jogou apenas pelo dinheiro. Ele jamais falou em respeito ao público, a Nadal, ao esporte ou a quem quer que seja. Sua única justificativa foi o dinheiro. Quer dizer que por dinheiro pode, mas pela esperança de fazer uma melhor campanha e vencer um torneio importante não? Ora, não estou entendendo isso...

Vamos parar com essa de achar que os profissionais jogam pelo mesmo objetivo que os domingueiros, ok? Eles não estão ali apenas pelo amor ao esporte. Muitos deles nem amam aquilo que fazem. Agassi só aprendeu a gostar de tênis de verdade aos vinte e sete anos, quando já tinha vários títulos no currículo. Eles jogam porque são profissionais, assim como um médico, um professor, um jornalista ou algo do tipo. Eles precisam, como todos os demais, de uma carreira de sucesso, de remuneração e reconhecimento. É por isso que eles jogam, ok? Quem joga só por amor, porque acha o tênis algo fantástico, somos nós.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Coisa de fã!


Todo fã de alguma coisa ou alguém, seja de um atleta, artista de televisão, rupo musical, ou qualquer coisa do tipo, tem pelo menos uma história divertida para contar sobre sua relação com o ídolo. A que vou narrar abaixo aconteceu comigo e envolve Gustavo Kuerten, o nosso grande Guga.

Em dois mil e um, quando nosso eterno número um ia disputar a final de Roland Garros na tentativa de defender seu título e, naquele momento, bicampeonato, minha namorada na época insistiu que queria sair para passear. Por mais que tentasse, não consegui dissuadi-la da ideia. Não havia alegação que desse jeito. O que fazer? Acabei sugerindo que fôssemos a um motel. Além das razões óbvias de se ir a um lugar como esses, a TV a cabo disponível se tornava um grande atrativo naquele dia. Não precisei nem falar duas vezes, rapidamente estávamos no carro indo para nosso destino.

Quando chegamos lá, eu agia naturalmente e fazia a “lição de casa” direitinho, mas durante os “intervalos”, a TV ficava ligada no jogo do Guga. Até que, perto do fim da partida, ela começou a querer, digamos, mais um pouco daquilo que nos levara até ali. E o dilema? Ver o Guga ser tricampeão de Roland Garros só aconteceria uma vez na vida! Aquilo podia esperar. Mas como fazer isso sem criar problema? Como? Olhei em volta em busca de alguma ideia e acabei me deparando com a banheira de hidromassagem. Pronto, ali estava minha saída. Perguntei a ela: “você não quer tomar um banhozinho bem gostoso antes?”. Só tem um detalhe: eu sabia que ela NUNCA entrava em banheira de motel, mas eu não dava a mínima pra isso, muito menos naquele dia. Com a resposta negativa que já esperava, eu disse: “pô, mas deixa eu dar uma relaxada primeiro, então”. Molezinha, em questão de minutos eu estava lá, prostrado na banheira, vendo o set final do jogo. Quando ela se tocou do meu truque já era tarde demais: Guga já estava desenhando o coração no saibro sagrado e eu chorando feito um paspalhão na banheira.

Enfim, com a vitória garantida, voltei para os meus “afazeres”, que ainda duraram mais algumas ótimas horas...