sábado, 29 de janeiro de 2011

E agora, o que será?

“Como será amanhã? Responda quem puder”. É assim que começa uma das canções mais famosas da música brasileira, eternizada na voz de Simone. E foi tentando responder a esta pergunta que passei os dois últimos dias, desde a vitória de Andy Murray sobre David Ferrer. Não estamos acostumados a isso no mundo do tênis: há muito tempo não se via uma final de um grande torneio sem Nadal e/ou Federer. O último Grand Slam em que isso aconteceu foi em dois mil e oito, quando Djokovic venceu Tsonga neste mesmo aberto da Austrália, conquistando seu primeiro e único título de major. E tenho certeza de que o fato de o número um ou o número dois do mundo não estar do outro lado da quadra é estranhíssimo para os dois jogadores que se enfrentarão amanhã em busca do feito épico que é vencer um torneio de Grand Slam. Andy Murray tenta sua primeira conquista deste porte. Já bateu na trave algumas vezes, mas sempre encontrou o suíço ou o espanhol pelo caminho. Djokovic tenta o bicampeonato na terra dos cangurus e também segundo major na carreira. Quem leva vantagem? Qual a importância desta final para o porvir deste esporte que enfrenta a hegemonia Nadal-Federer há mais de cinco anos?

Vou tentar responder à pergunta mais fácil primeiro. Qual a importância de uma final de Slam, depois de tanto tempo, sem os dois melhores tenistas da atualidade? Enorme. Não somente pela final em si, mas para o que ela pode representar para os dois jogadores envolvidos. Em dois mil e oito, quando o sérvio venceu, seu tênis não era sombra do que vem apresentando hoje, que está cada vez mais agressivo, sólido e consistente. Seu preparo físico também evoluiu – apesar de ainda não ser o adequado para um top 5 – e sua cabeça, que sempre foi um de seus principais adversários, melhora mais e mais a cada dia. O jogo contra Federer na semifinal foi um exemplo disso. Parecia que era Djokovic quem defendia o título, que ele era o favorito, tamanha a confiança com que entrou em quadra e mandou o suíço de volta para casa mais cedo. Golpes certeiros, rápidos e muita força física não deram a menor chance para o número dois do mundo. Uma nova conquista de Grand Slam neste ponto de sua carreira pode lhe fazer acreditar que é possível vencer e chegar ao topo, coisa que acho que sempre o atrapalhou nos momentos decisivos. Em quase todas as oportunidades em que estava chegando perto demais do número dois do ranking da ATP sua performance caía absurdamente. Agora não vejo mais isso acontecendo e creio que a vitória amanhã lhe dará toda a confiança que precisa para ir em busca dos dois “intocáveis” tenistas que estão acima dele.

Por outro lado, Murray é um jogador extremamente habilidoso, versátil e competente. Defende de uma maneira que só Nadal sabe fazer atualmente. A capacidade de fazer reviravoltas em seu jogo durante uma partida é única no circuito. O que lhe falta? Duas coisas: cabeça no lugar e confiança. Ok, falta um pouco mais de agressividade a seu jogo e subidas mais eficientes à rede, mas nada que sua competência ímpar do fundo da quadra não minimize. O que vejo que realmente precisa evoluir no britânico é sua estabilidade emocional. Acho até que ela também afeta sua confiança. Amanhã ele terá sua prova de fogo. Se tiver controle para fazer seu jogo com inteligência e vencer um embaladíssimo Djokovic na final de Grand Slam que entra com mais chances de vencer, provará para o mundo e principalmente para si mesmo que é digno do topo. E Andy Murray confiante e sem a paranóia dos Slams não vencidos, sem a pressão dos britânicos que não vencem um major há mais de setenta anos, pode ser ainda mais perigoso.

Mesmo correndo o risco de contrariar alguns dos maiores nomes do tênis e do esporte mundial, não acho que o top 5 atual seja o pior da história. Certamente não é o melhor, mas ainda acho que está longe de ser o pior. Murray e Djokovic são excelentes jogadores. Neste início de temporada estão jogando melhor do que os dois primeiros do ranking. Soderling vem evoluindo, mas não acho que ele esteja no nível dos outros quatro, apesar de estar na frente de Murray até o momento. Agora, daí pra cima realmente a coisa complica. Aí sou obrigado a concordar com Sampras...
Resumindo o que quero dizer, uma final entre Novak Djokovic e Andy Murray pode ser o início de uma era de disputas mais equilibradas e títulos mais distribuídos; pode iniciar uma era de várias grandes disputas e rivalidades, não se limitando a apenas dois tenistas. Tenistas sensacionais, mas apenas dois. É pouco. Quem acompanha tênis desde o fim dos anos oitenta como eu o faço, sabe o que estou falando. Quem é mais antigo ainda, nem se fale...

Imagino que, se Murray vencer, pode ser o despertar de uma fera que vem ensaiando a fuga da jaula há algum tempo. Joga demais o escocês. Se aprender a subir à rede com mais freqüência e a escolher melhor os momentos para fazê-lo, pode se tornar um novo fenômeno do esporte. Se o sérvio levar a melhor, pode começar a acreditar que também tem o direito de ganhar vários Slams e continuar a soltar as bordoadas que distribuiu em Melbourne ao longo do ano. O jeito é esperar mais algumas horas para ver qual será o caminho que se desenhará para os dias que vêm por aí.

Já a outra pergunta, essa é complicada demais. Quem leva vantagem amanhã? Não sei mesmo afirmar uma resposta. Não me obriguem a dizer um nome, pois não tenho certeza de nada. Quando penso em Djokovic, me lembro da barbaridade que Murray jogou ao longo do torneio, principalmente contra Ferrer, onde soube achar um caminho para uma grande vitória. Quando penso no escocês, penso na quantidade de pancada e na velocidade que o sérvio impõe ao jogo e o quanto sufoca o adversário no fundo da quadra. Mas, como tenho que dar uma resposta, vou de Andy Murray. Acho que se estiver com a mão calibrada e os nervos no lugar, leva essa. Ele já vem merecendo há um tempo.

Quem comemora amanhã? Só esperando pra ver.

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