sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Projeto Social Tênis na Lagoa

Em todos os países do mundo é muito comum se ouvir falar de projetos sociais para os mais carentes econômica e socialmente. Vê-se de tudo: artesanato, informática, música, etc. E com o esporte não é diferente, sendo corriqueira a existência de projetos que envolvem algum tipo de atividade esportiva a fim de ajudar as classes menos favorecidas. No Brasil, mais especificamente, são vários os casos famosos de projetos que surgiram de iniciativas pessoais sem qualquer tipo de apoio de grandes empresas, ONGs ou – principalmente – do Estado. O AfroReggae é um deles. O Tênis na Lagoa é outro.


O projeto criado e conduzido por Alexandre Borges é, em resumo, uma escolinha de tênis para crianças e jovens carentes do Rio de Janeiro, que tem como base a Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul da cidade. Alguns de vocês já devem ter ouvido falar do projeto, pois Luciano Huck já falou um pouco sobre ele em seu programa semanal de TV na Rede Globo. Recentemente fui conhecer mais de perto esse belo trabalho, e vou falar para vocês um pouco de como foi minha visita ao projeto e minhas impressões sobre ele. Em ocasião futura publico o papo que tive com Alexandre sobre seu trabalho e as dificuldades que ele encontra para mantê-lo.

Quando cheguei à quadra – que fica localizada em frente ao clube Monte Líbano – o vento insuportável agredia os meninos, que lutavam para acertar as bolas da maneira que realmente queriam. Alexandre estava ao telefone e carregava uma mochila com algumas raquetes nas costas. Assim que me aproximei ele desligou o aparelho e nos apresentamos. Ele é um cara legal, simples e discreto, de fala tranqüila e bastante bem humorado. Foi fácil fazer tudo funcionar entre nós a partir daí.

Na quadra havia cerca de dez adolescentes, entre meninos e meninas, iniciando um bate bola, apesar do tempo não estar ajudando muito. Quando me viu olhando para o grupo ele logo disse: “hoje não deve vir muita gente por causa do tempo”. E eu que estava achando que, dado o clima, o quórum era bom...

Enquanto os meninos e meninas jogavam, nós conversávamos sobre sua história no esporte, das idéias para o projeto, tênis, raquetes, etc. Alexandre nem parece ser um cara que conhece Thomas Koch, Gustavo Kuerten, Carlos Alberto Kirmayr, dentre tantas outras feras do tênis. Ele me contava suas histórias com tamanha naturalidade que as tornava ainda mais interessantes, como quando vendeu um aparelho de som para arranjar dinheiro e viajar para São Paulo para assistir a um jogo de tênis, ou quando descreveu seu encontro e das crianças do projeto com Guga no dia do jogo contra Agassi, no desafio espetacular no fim de 2010. E foi com essa mesma naturalidade que me disse o nome do padrinho de seu projeto: ninguém menos do que Thomas Koch, um dos maiores tenistas brasileiros de todos os tempos. É essa simplicidade de Alexandre que faz com que seja fácil acreditar na verdade do que ele faz e vi acontecer lá, mesmo tendo ficado por pouco tempo no local.

Dentre muitas coisas que ouvi durante nossa conversa, uma que muito me marcou foi: “o projeto é pra formar cidadãos, não atletas. Se rolar de aparecer um, beleza, mas esse não é o objetivo”. Isso é importante em qualquer projeto social sério: dar educação, ensinar disciplina e civismo aos seus beneficiados. Alexandre faz isso lá. E, mesmo tendo ficado pouco tempo com ele, pude ver alguns exemplos disso. Por pelo menos meia dúzia de vezes o vi cobrando respeito da rapaziada, sempre sem precisar alterar o tom de voz. Ele parece entender o que é, de fato, respeito adquirido e não imposto. Seus alunos o adoram e fazem o que ele quer, o que é ótimo. Lembrando que sempre na base da conversa e da amizade. Vou narrar uma situação que ele me contou.

Certa vez um de seus alunos aprontou feio em sala de aula. A diretora da escola ligou para Alexandre, que tirou o menino do tênis imediatamente, até que tivesse a aprovação da professora. O menino foi implorar à diretora que voltasse atrás, pois sem o tênis ele ia ficar “de bobeira na favela” e ele não queria isso, que sem jogar tênis ele “não ia ter nada para fazer”. A diretora deu um voto de confiança ao menino e ligou para Alexandre, que o retirou do castigo. Depois disso não houve mais reclamação da escola.

Esse é só um dos muitos casos que aconteceram por lá durante esses sete anos de projeto, que obriga seus alunos a estarem estudando e se comportando bem em casa e na escola. Sem estes requisitos, a participação nas aulas é vetada.

Do ponto de vista da prática do esporte em si, pude ver alguns meninos bastante talentosos, com muito potencial, que poderiam ser aproveitados de maneira mais profissional se tivessem a oportunidade. É uma pena que faltem clubes desenvolvendo seriamente o nosso esporte, dispostos a investir em novos atletas. Muitos talentos já devem ter sido perdidos pelo caminho devido a isso. Acho que as federações estaduais e a CBT deveriam garimpar esses projetos sociais em busca de jovens promissores e iniciar um treinamento sério, mais profundo. Faltam clubes, falta estrutura. Isso, pelo menos, se conquista, se constrói. Tenho medo que falte vontade. É realmente uma pena. Que a olimpíada de 2016 nos traga algum alento de que isso pode, um dia, mudar.


Voltando ao Tênis na Lagoa, apesar da boa vontade de Alexandre e do empenho de seus alunos, a situação não é muito diferente: falta muita estrutura. A situação da quadra onde o projeto acontece é precária e o material é todo custeado por ele, sem qualquer ajuda, parceria ou patrocínio de empresas. Como se isso já não bastasse, ele mesmo paga a passagem de ida e volta da maioria dos alunos. Agora um fato para você refletir: segundo o próprio Alexandre, mais da metade de seus rendimentos – conseguidos apenas com aulas de tênis – são redirecionados para o projeto.

Em resumo, o projeto Tênis na Lagoa é uma bela iniciativa e atende hoje várias crianças e jovens de diversas comunidades carentes do Rio de Janeiro (há alunos até da zona oeste da cidade) e é um grande e bonito esforço de seu criador e condutor para tentar formar cidadãos melhores através do esporte. Parabéns ao projeto e a todos os envolvidos nele. Precisamos de mais iniciativas como esta.

Se você tem ou quer comprar algum equipamento de tênis para doar, procure o Alexandre diretamente no local ou através de seu web site e/ou perfil do twitter. Se você é lojista na área de esportes, colabore com o projeto. Visite o local, você vai ver que vale a pena.

Aguarde a publicação do meu papo/entrevista com Alexandre sobre o projeto Tênis na Lagoa em publicação futura aqui no Blog.

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