terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ele é isso tudo mesmo?

Só eu não achei a sensação Milos Raonic esse tenista todo? Claro, ele é bom, mas é de fato tudo isso que andam falando por aí?

Primeiramente, vamos identificar os méritos do jovem canadense de apenas vinte anos:
• Saca demais. Talvez tenha o melhor saque do circuito no momento;
• Bate forte tanto com o forehand quanto com o backhand;
• Voleia muito bem.

Bom, quanto ao saque nem acho que seja necessário comentar. Deixo isso para Verdasco, mas quanto ao resto, vamos lá.

Os golpes de Raonic são muito fortes, as bolas de forehand são realmente muito “pesadas”. O backhand não fica muito atrás. A direita ainda tem como aliada da força os bons ângulos que ele consegue tirar em grande parte do tempo. Quando ataca com precisão, o canadense é fatal.

Sobre o voleio, aí sim acho que ele se destaca bem mais do que a maioria de seus companheiros de circuito. É claro que ainda há muito a evoluir, mas o fato de buscar a rede com freqüência e, na maior parte do tempo, com êxito já me anima bastante. Na era dos brucutus espancadores de bola, dá gosto ver alguém tão forte lá de trás subir à rede corriqueiramente.

Agora aos pontos negativos:
• Agride demais a bola, sempre buscando os winners “na linha”;
• Péssima movimentação, extremamente lento;
• Não tem consistência do fundo da quadra;
• Poucas variações quando a pancadaria não resolve.

"O primeiro ponto negativo acima deve estar no lugar errado, não?", você deve estar pensando. Mas não, não está no lugar errado. Um jogo de tênis é muito mais do que bolas rápidas e pancadaria buscando as linhas. Um jogo de tênis exige paciência, inteligência e calma para saber a exata hora de atacar. Os jogadores número um e número dois do ranking no momento não jogam na base da pancadaria, muito pelo contrário, trabalham o ponto com bolas mais anguladas, com mais spin e menos peso, movimentando o adversário até acharem a brecha para acelerar e buscar o winner. Raonic – e a maioria dos tenistas da atualidade – perde muitos pontos por impaciência, por querer bater sempre. Buscar as linhas é ótimo, Federer faz isso o tempo todo, mas experimenta tirar um pouco do peso e colocar um pouco mais de efeito com ângulos bem fechados pra ver se o nível de acerto não vai subir consideravelmente.

O problema é que a característica que apontei como defeito acima não é culpa do canadense. A tendência no tênis moderno é essa (infelizmente) e não há muito mais o que ele possa fazer, já que se movimenta muito mal – principalmente lateralmente – e é muito inconsistente no fundo da quadra. Trocas de bolas longas o levam ao erro rapidamente. Se o tenista do outro lado tiver paciência e baixar duas ou três bolas, tem grandes chances de ganhar o ponto em erros não forçados. É aí que entra o que eu disse sobre as poucas variações. Por se movimentar mal e estar acostumado a resolver a coisa na base da pancada, Raonic não consegue fugir muito das armadilhas dos slices baixinhos ou de bolas sem muito peso e com muito spin. Ele se complica. Aí tenta as pancadas que vão para fora ou as subidas à rede, que são ótimas, mas nem sempre dão certo, é normal. Não dava certo 100% das vezes para Sampras e Becker, por que daria para ele?

Não me interprete mal, não estou dizendo que o já maior tenista canadense de todos os tempos não é bom jogador. Longe disso. O garoto é bom. Muito bom! Não ganharia de três top ten e subiria mais de cem posições no ranking em dois meses, vencendo um ATP e sendo vice campeão de outro se não o fosse. Acho apenas que é muito cedo para dizer que ele é o próximo número um ou quebrador de recordes. Quem já o viu no saibro em algum torneio de expressão? Quem já o viu jogar quando o saque não funciona? Como ele se comportará defendendo pontos importantes (em um jogo ou em um torneio)? Vamos esperar um pouco mais. Lembro de Isner, Berdych, Cilic, dentre tantos outros que despontaram como fenômenos e acabaram se provando tenistas normais como quaisquer outros.

Agora, há de se dizer que Raonic é ainda muito jovem e tem muito a aprender e evoluir. Tudo depende da confiança que terá em seu(s) treinador(es), de como lidará com o sucesso e de quanta vontade terá de aprender mais, e nisso Federer e Nadal podem servir de exemplo para ele. Movimentação e precisão se adquire treinando. Paciência, consistência e inteligência já estão mais dentro dele e não podem ser apreendidos com treino se ele não as quiser/puder pôr para fora. Veja o caso de Andy Murray. Tecnicamente fantástico, mas a cabeça o impede de entrar para história do esporte.

Torço para que o canadense evolua, aperfeiçoe ainda mais o voleio, suba ainda mais à rede, angule, explore mais spin, jogue com inteligência e use a potência fantástica de seus golpes apenas para decidir os pontos. Se assim o fizer, Federer terá boa parte de seus recordes quebrados. Caso se contente em ser um espancador de bolinhas, talvez não brilhe tanto. Vamos ver, só o tempo dirá. Até lá, de olho nele!

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