quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quem condena?

Nas últimas semanas dois tenistas brasileiros foram alvo de muita polêmica, graças a decisões que tomaram em quadra. Marcos Daniel e Thiago Alves, cada um a seu modo, agiram de acordo com aquilo que julgavam correto no momento e levantaram discussões em todas as redes sociais do mundo em que havia pelo menos dois fãs de tênis. Sem julgar qualquer mérito ou demérito nas decisões de ambos, vou comentar o assunto, expondo aquilo que penso a respeito, o que não é, necessariamente, a verdade absoluta. Nem assim pretendo que o seja, é apenas a minha opinião, ok?

No dia do jogo de Marcos Daniel, ainda na primeira rodada do Australian Open de dois mil e onze, me enchi de esperanças de ver uma boa partida e um brasileiro fazendo bonito na Rod Laver Arena. Mas quando a disputa começou, logo percebi que isso seria só uma doce ilusão. O brasileiro não oferecia resistência, não se movia em quadra corretamente e perdeu o primeiro set sem marcar um ponto sequer. No meio da segunda parcial veio o abandono do brasileiro. Depois viemos a saber que ele estava sentindo uma forte lesão no joelho, que passara a incomodá-lo em um treino alguns dias antes. Quando vi que o próprio tenista disse que sabia que não tinha condições de jogo devido a essa lesão, me irritei e perguntei, sem obter resposta: “Por que não se falou nisso antes? Por que esperar o jogo? Por que não abandonar antes e não passar essa vergonha, já que sabia que não poderia competir contra ninguém?”. Logo vieram matérias em todos os veículos ligados ao tênis informando que Daniel entrou em quadra por causa do prêmio em dinheiro (cerca de trinta e três mil reais), pois precisava dele para sustentar sua família. Minhas críticas cessaram imediatamente. Quem pode condenar um homem por querer o melhor para sua família? E ele não havia feito nada errado. Seu único “crime” foi entrar em quadra sem condições, única e exclusivamente pelo dinheiro. E é nisso que quero basear meu argumento, mas primeiro vou falar do caso de Thiago Alves e depois concluir, ok?

A polêmica de Thiago é um pouco maior e deu muito mais repercussão na imprensa esportiva e nas redes sociais do que a de seu colega gaúcho. A causa disso tudo foi sua derrota para o sul-africano Nikala Scholtz no qualify de Johanesburgo e sua declaração oficial através de sua assessoria de imprensa, que dizia que ele não se esforçou muito no jogo, pois enfrentaria um adversário muito difícil no dia seguinte e precisava se poupar, já que já estava classificado, independente do resultado da partida. Aí começaram os gritos de “entregou” e as pedradas no tenista, acusando-o de anti-ético, desrespeitoso com o esporte, com o público, com o atleta que enfrentava e com o outro lucky loser, e por aí vai. Vamos analisar as coisas por partes.

1 – Eu entendo “não se esforçar muito” como algo “jogar em um ritmo mais lento, se der pra ganhar, beleza” e não “vou perder logo isso aqui, porque não tô nem aí”;

2 – Atletas profissionais vivem do dinheiro que ganham com patrocínio, premiações e títulos. Thiago apostou que poderia ir mais longe no torneio, e, consequentemente, aumentar as chances de melhorar tudo isso aí que falei, então jogou “com o regulamento debaixo do braço”, como dizem no esporte. É errado?

O que quero dizer é: não podemos nos iludir e pensar que um atleta profissional pratica o esporte apenas pelo amor, pela alma esportiva ou algo do tipo. Estes somos nós, os amadores que jogamos porque adoramos e só isso nos basta. Eles jogam porque precisam dele, acima de tudo. Esporte pelo simples espírito esportivo é o frescobol. O tênis profissional é coisa séria, e é por isso que tem regras, juízes, associações e todo o tipo de controle sobre ele. Milhões de dólares são gastos por ano em premiações, patrocínio e organização de eventos. Não dá para achar que neste mundo só existe amor ao esporte. Não nos iludamos. Thiago não fez nada diferente do que a maioria de nós também faria se estivesse em seu lugar. Quem joga o mínimo de tênis sabe o quanto este esporte exige física e mentalmente, como são caros bons equipamentos. Imaginem o esforço gasto na formação de um profissional? Alguém aí tem ideia do quanto de dinheiro se gasta para formar um tenista nível ATP? Como condenar alguém que passou por muita coisa, inúmeras privações, investiu uma fortuna para chegar onde está, para aparecer, para subir no ranking, vencer um torneio importante e, por isso, opta por uma decisão que, pelo menos em tese, o ajudaria no restante da competição? É verdade que ele não avançou como imaginou que o faria e acabou somando menos pontos, mas ele apostou. E, em minha opinião, apostou bem. Ele pensou pra frente, apostou em vencer e seguir no torneio, pensou na continuidade da competição, nas suas chances de conquistas e quis aumentá-las. E por isso acho que está certo. Se ele tinha condições físicas para jogar em plenas condições duas partidas no mesmo dia e mais uma contra um adversário difícil no dia seguinte, só quem sabe é ele. Ele e mais ninguém. Eu não posso me atrever a dizer, sem ser o próprio atleta, se ele tinha ou não tinha condições de jogo. Seria leviano de minha parte afirmar isso. Só o próprio atleta sabe até onde pode chegar.

Voltando ao Marcos Daniel, faço uma pergunta: por que ele foi tão elogiado por enfrentar Nadal mesmo machucado e Thiago tão condenado pela decisão que tomou? Lembro a vocês que Daniel deixou bem claro que jogou apenas pelo dinheiro. Ele jamais falou em respeito ao público, a Nadal, ao esporte ou a quem quer que seja. Sua única justificativa foi o dinheiro. Quer dizer que por dinheiro pode, mas pela esperança de fazer uma melhor campanha e vencer um torneio importante não? Ora, não estou entendendo isso...

Vamos parar com essa de achar que os profissionais jogam pelo mesmo objetivo que os domingueiros, ok? Eles não estão ali apenas pelo amor ao esporte. Muitos deles nem amam aquilo que fazem. Agassi só aprendeu a gostar de tênis de verdade aos vinte e sete anos, quando já tinha vários títulos no currículo. Eles jogam porque são profissionais, assim como um médico, um professor, um jornalista ou algo do tipo. Eles precisam, como todos os demais, de uma carreira de sucesso, de remuneração e reconhecimento. É por isso que eles jogam, ok? Quem joga só por amor, porque acha o tênis algo fantástico, somos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário