sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O calvário de Bellucci


Muito se fala de Bellucci e de suas atuações, resultados, (falta de) golpes e até mesmo do sangue em suas veias. Depois de sua derrota para o número duzentos e quarenta e um do mundo, o melhor tenista brasileiro da atualidade sofreu milhares de críticas, umas mais outras menos inflamadas, mas todas com seu lado verdadeiro, seu lado exagerado e seu lado, digamos, mentiroso. Vou dizer o que penso...

Hoje mesmo escrevi – e vou repetir aqui – sobre a derrota de Thomaz para Jan Hernych:

O pupilo de Larri ainda precisa melhorar muito seu jogo e, principalmente, sua cabeça para evoluir no tênis e, consequentemente, subir no ranking. Primeiramente, acho que parte dos problemas do brasileiro são as seguidas maratonas que enfrenta. Não me lembro de um jogo seu que tivesse acabado rápido. Ele passa muito tempo em quadra, o que exige demais de mente e corpo. Em um torneio de Grand Slam – onde a pressão é muito maior – jogado sob um sol brutal como o de Melbourne, isso faz muita diferença. É muito difícil conseguir manter dia após dia a concentração alta e o corpo sadio disputando jogos de quatro a cinco horas seguidamente. Devido a isso e a seu jogo inconstante, não vejo sua eliminação como algo precoce, infelizmente. Bellucci ainda não encontrou algo que se possa chamar de regularidade, por isso não considero surpresa que ele seja eliminado em qualquer rodada de qualquer torneio deste porte. Acho que com uma boa sequência em torneios expressivos, chegando às semifinais e até mesmo finais de ATP 1000, poderemos começar a achar prematura sua eliminação em segundas rodadas de Grand Slam. Até lá, tudo que posso achar é que Bellucci é uma promessa do nosso tênis. Uma promessa que já está passando da hora de se cumprir, mas só uma promessa, infelizmente.

Falando especificamente sobre a derrota mencionada acima, ratifico o que falei: acho, mesmo, que Bellucci ainda não “engrenou” e que ainda não confirmou o que o Brasil dele espera. Agora, isso não quer dizer que ele chegou ao top trinta por acaso ou que não mereça estar lá. Ninguém chega lá por acaso. Caroline Wozniacki lidera a WTA e nunca ganhou um torneio de Grand Slam. Justine Henin tem sete títulos desse porte e caiu na terceira rodada. A consistência, freqüência de bons resultados e solidez do jogo fazem um tenista subir e ficar no topo do ranking. Thomaz chegou aonde chegou assim. O problema foi que chegou lá com torneios de pequeno e médio porte. Para subir mais vai precisar de torneios de grande e enorme porte, leia-se master 1000 e Grand Slam. Aí é que acho que a coisa complica para o nosso número um.

Bellucci não tem a tal consistência necessária pra se manter no alto, muito menos a solidez do jogo de um top 10, por exemplo. Esta última ele está buscando com Larri Passos. Acho, honestamente, que é possível que ele melhore muito, a ponto de subir, pelo menos, vinte posições no ranking. Isso, para um país que não tem investimentos ou tradição no esporte é um feito hercúleo. Ser o número trinta do mundo já o é, imagine dez ou quinze? Nunca nos esqueçamos que ele já foi o número vinte e um do mundo. O que falta, então, para subir mais? O que creio que falta muito a Thomaz é cabeça. Não o vejo forte mentalmente para subir muito, a não ser, é claro, que isso mude. Outra coisa que ele precisa melhorar rapidamente é o preparo físico. Bellucci não agüenta uma rotina de jogos muito duros. Ainda acho algumas coisas que me arrisco a dizer:

• Ele deve tentar encurtar mais os pontos e, consequentemente, os jogos. Bellucci não joga, ele disputa batalhas. São sempre três a quatro horas de jogo. Não é para qualquer um passar um ano inteiro nesse ritmo, mesmo com vinte e três anos;

• Ele deve ousar mais, subir mais à rede e agredir mais os adversários. Bellucci tem uma ótima direita, pode buscar bolas mais anguladas e fundas. Isso se resolve com treino, não é obra de mágicos. Basta que ele vá atrás dessa evolução em seu jogo;

• Ele deve parar de ler qualquer coisa que a imprensa brasileira publique sobre ele, inclusive eu. A pressão que se faz para que ele seja um novo Guga é anormal e injusta. É óbvio que ele não será um novo Guga. Não porque não tenha o mesmo talento ou carisma, mas pelo simples fato de que as pessoas são diferentes. Agassi e Sampras são completamente antagônicos, tanto quanto atletas como quanto pessoas, e ambos foram ídolos em seu país. Cada um do seu modo. O Brasil tem que parar de exigir de Thomaz algo que ele não tem a menor condição de dar. Tem, pois, que exigir dele o máximo que ele pode dar. Se isso for ser o número vinte e um do mundo, que assim o seja.

Agora, o que me dá a impressão é que o povo implica com ele porque não vê nele o brio que se espera de um atleta de seu nível. Lembro-me de quando Guga começou sua ascensão. Quantas piadas não se fazia sobre as freqüentes eliminações em quadras rápidas do maior tenista da história deste país? Ironia do destino quando quis que no mais rápido de todos os pisos esse mesmo Guga se tornasse o número um do mundo. Sua evolução nesse ambiente era absurda, mas sua contusão nos privou do prazer de vê-lo jogar e, creio eu, ganhar mais uns três torneios de Grand Slam. Fato é que Bellucci precisa melhorar. Nadal precisa melhorar. Federer precisa melhorar. Guga precisava melhorar. Todos precisam melhorar, por que com Bellucci seria diferente? Aí é que volto à questão do brio. Thomaz parece sempre muito apático e ausente do jogo. Raros são os momentos que o vemos brigar e demonstrar “tesão” por estar ali. O povo brasileiro não gosta disso. Veja o exemplo de Ayrton Senna. Ele foi um ídolo muito maior do que Nelson Piquet, que também é tricampeão e brilhante nas pistas. Sem entrar no mérito do talento, Senna tinha mais carisma – e isso não se aprende, se tem – e falava com o povo brasileiro como se fosse um deles. A alegria de Senna ao pilotar, sua emoção em vencer e o prazer que tinha em dizer que queria trazer alegria ao povo brasileiro o fez ser um dos maiores ídolos do nosso esporte de todos os tempos. Talvez até mesmo o maior de todos. Mesmo que Piquet tivesse o dobro de títulos, não teria o amor do nosso povo como Ayrton tinha e tem até hoje. O próprio Federer sofre dessa implicância. Muitos o acham frio e distante demais, dizem que ele parece jogar como se fizesse um favor a alguém, que não se liga no jogo e tal. Nadal, que sua como se pisasse no sol, corre, se joga e rasga a roupa se for preciso é amado neste país por muitos mais do que o suíço. Bom, pelo menos no domínio de pessoas que conheço este é um fato. O que quero dizer é que falta a Bellucci essa “coisa” com o povo, e isso se conquista com o tempo, mas também com vitórias, regularidade e luta, muita luta. Ficar quatro horas na quadra não significa, necessariamente, lutar. Talvez, se houvesse de fato luta o jogo demorasse duas horas e o resultado lhe seria favorável. Tempo em quadra não quer dizer que deu seu máximo e vice-versa. Nadal e Federer que o digam.

Outra coisa que atrapalhou demais a vida de Bellucci para esta temporada foi sua declaração no fim do ano de dois mil e dez, quando criticou todos os técnicos brasileiros, à exceção de Larri Passos e de João Zwetsch, seu técnico à época. Quase todos os profissionais da área, comentaristas esportivos e boa parte da imprensa criaram, naquele momento, uma rusga com nosso número um. E pode ter sido fruto dessa mágoa a dura crítica de Osvaldo Maraucci ao brasileiro após a eliminação no Australian Open. Pode ser, não tenho condições de afirmar. Seja qual for o motivo, não acho que ele tenha falado uma totalidade de inverdades, mas também não acho que o tom deva ser esse. A crítica foi, claramente, agressiva e destrutiva. O que Bellucci menos precisa agora é disso. Críticas são ótimas, mas quando visam a melhora, a evolução.

Para concluir e resumir, o que acho é que Thomaz tem potencial para ser mais do que é, mas não acho que tenha condições de vir a ser um número um, mas também nem acho que precise sê-lo. O que acho que ele tem que fazer é aprimorar seu jogo, técnica e fisicamente, e aumentar sua capacidade mental (esta nem sempre é possível). Isso o levará a melhores resultados em grandes torneios, o que o fará subir no ranking. Mantendo uma constância de resultados, a credibilidade virá e a paz também. Nesse momento ele deixará de ser promessa e será realidade. Mas só com a regularidade. Sem ela, nada feito.

Nenhuma descoberta sensacional isso que eu disse, mas parece ainda não estar claro para alguns. Só não acho que devamos parar de torcer e apoiar o brasileiro, tampouco de criticar, mas apenas quando a crítica for sadia, sua evolução e não querendo afundá-lo ainda mais mentalmente. Bellucci, meu filho, desligue a TV e a internet, não compre jornal e vá treinar. Se você subir, a galera te perdoa rapidinho. Brasileiro tem memória curta. Liga não...

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